Luciano de Samósata e a ficção da tradição democrática
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.25.1.65-86Palavras-chave:
Historicidade, Ficção, Democracia, Helenismo, Império RomanoResumo
Mais que um polemista do século II, Luciano de Samósata expressou importantes transformações da consciência histórica de seu tempo. Procura-se argumentar que os usos e abusos da terminologia democrática grega, especialmente a ateniense, em uma conjuntura política na qual Roma estendeu seu imperium por todo o Mediterrâneo, indicam uma fratura entre o antes e o agora. Com efeito, ao contrário do período clássico, quando os historiadores procuravam fazer do passado recente uma fonte que iluminaria os caminhos a serem tomados no futuro, no século II era reconhecida a artificialização da continuidade temporal, que facultava ora naturalizar o processo de dominação ora colocar o passado em disputa. Para tanto, serão cotejadas diferentes obras de Luciano, a exemplo de Como se deve escrever a história, Das narrativas verdadeiras e Nigrino, com outras de personagens do mesmo período, como do imperador Marco Aurélio e do apologista Élio Aristides.Downloads
Referências
EDIÇÕES E TRADUÇÕES DE TEXTOS GREGOS
AELIUS ARISTIDES. Aristides. Ed. W. Dindorf. Leipzing: Reimer, 1829.
AELIUS ARISTIDES. To Rome. Traduction by Saul Levin. Chicago: The Free Press Illinois, 1950.
DIO CHRYSOSTOM. Dio Chrysostom. With an English translation by J. W. Cohoon. Cambridge: Havard University Press, 1951, v. 5.
FLAVIUS JOSEPHE. Guerre des Juifs. Texte établi et traduit par André Pelletier. Paris: Les Belles Lettres, 1980.
HERÓDOTO. História. Tradução Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, 1994.
HERODOTUS. The histories. With an English translation by A. D. Godley. Cambridge: Harvard University Press. 1920.
HESÍODO. Trabalhos e dias. Tradução de Christian Werner. São Paulo: Hedra, 2013.
LUCIANO. Como se deve escrever a história. Tradução, notas, apêndices e o ensaio “Luciano e a história” de Jacyntho Lins Brandão. Belo Horizonte: Tessitura, 2009.
LUCIANO. Diálogos dos mortos. Introdução, versão do grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Coimbra: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1989.
LUCIANO. Luciano I. Tradução do grego, introdução e notas Custódio Magueijo. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012.
LUCIANO. Luciano IV. Tradução do grego, introdução e notas Custódio Magueijo. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013.
LUCIANO. Luciano VIII. Tradução do grego, introdução e notas Custódio Magueijo. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013.
MARC-AURÈLE. Pensées de Marc-Auréle. Traducction par J. Barthélémy Saint-Hilaire. Paris: Baillière, 1876.
MARCO AURÉLIO. Meditações. Tradução de Jaime Bruna. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (Coleção Os Pensadores, 5 v.).
MARCUS AURELIUS. M. Antonius Imperator ad se ipsum. Edição de Jan Hendrik Leopold. Leipzig: Keyboarding, 1908.
MARCUS AURELIUS ANTONINUS. The meditations of the emperor Marcus Aurelius. Oxford: Clarendon Press, 1944.
PLUTARCH. Plutarchs’s moralia. Translated by Harold North Fowler. Cambridge: Harvard University, 1936.
TÁCITO. Anais. Tradução e prólogo de Leopoldo Pereira. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
THUCYDIDES. Historiae. Ed. by H. S. Jones and J. E. Powell. Oxford: Clarendon Press, 1942, 2 v.
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Introdução, tradução e notas de Mário da Gama Kury. Brasília: UNB, 1982.
ESTUDOS MODERNOS
ARANTES JUNIOR, Edson. Diálogo dos mortos sobre os vivos: uma crítica luciânica à cerimônia de apoteose do imperador romano. Revista Mosaico, v.1, n.2, jul./dez., 2008, p. 261-268.
BOWERSOCK, Glen W. Greek sophist in the Roman Empire. Oxford: Clarendon Press, 1969.
BRANDÃO, Jacyntho Lins. A poética do hipocentauro: literatura, sociedade e discurso ficcional em Luciano de Samósata. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
BRANDÃO, Jacyntho Lins. Em nome da (in)diferença: o mito grego e os apologistas cristãos do segundo século. Campinas: Unicamp, 2014.
BRANDÃO, Jacyntho Lins. Luciano e a história. In: LUCIANO. Como se deve escrever a história. Tradução, notas, apêndices por Jacyntho Lins Brandão. Belo Horizonte: Tessitura, 2009.
BROWN, Peter. A sociedade. In: O fim do mundo clássico: de Marco Aurélio a Maomé. Lisboa: Verbo, 1972.
CLAY, Diskin. Luciano of Samosata: four philosophical lives (Nigrinus, Demonax, Peregrinus, Alexander Pseudomantis). ANRW II, Berlin; New York, v. 2, t. 36, 1997, p. 3406-3450.
CUEVA, Edmund. The myths of fiction: studies in the canonical Greek novels. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 2007.
DABDAB TRABULSI, José Antonio. Participação direta e democracia grega: uma história exemplar? Coimbra: Grácio Editor, 2018.
DELEUZE, Gilles. Bergsonismo. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Ed. 34, 2008.
FAVERSANI, Fábio. A pobreza no Satyricon, de Petrônio. Ouro Preto: UFOP, 1998.
FINLEY, M. I. A política no mundo antigo. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
FLORES Jr., Olimar. Canes sine coda: filósofos e falsários: uma leitura do cinismo antigo a partir da literatura relativa a Diógenes de Sínope. Belo Horizonte: UFMG, 2006. (dissertação)
FOUCAULT, Michel. A coragem da verdade: o governo de si e dos outros II: curso no Collège de France (1983-1984). Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 3: o cuidado de si. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.
FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Tradução de António Fernando Cascais e Edmundo Cordeiro. Lisboa: Vega, 2006.
GRANT, Michael. The Antonines: the Roman Empire in transition. London; New York: Routledge, 2005.
GUARINELLO, Noberto Luiz. Nero, o estoicismo e a historiografia romana. Boletim do CPA, Campinas, n. 1, 1996, p. 53-61.
GUARINELLO, Noberto Luiz. Ordem, integração e fronteiras no Império Romano. Um ensaio. Mare Nostrum, v. 1, 2010, p. 113-127.
HALL, Jonathan M. The nature and expression of ethnicity: an anthropological view. In: Ethnic identity in Greek Antiquity. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
HARTOG, François. A fábrica da história: do “acontecimento” à escrita da história – as primeiras escolhas gregas. História em Revista, Pelotas, v. 6, dezembro/2000, p. 7-19.
HARTOG, François. A história de Homero a Santo Agostinho. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
HINGLEY, Richard. Globalizing Roman culture: unity, diversity and empire. New York: Routledge, 2005
JONES, C. P. Culture and society in Lucian. Cambridge: Harvard University, 1986.
LINTOTT, Andrew. Imperium Romanum: politics and administration. London; New York: Routledge, 1993.
MENDES, Norma Musco. O sistema político do Principado. In: MENDES, N. M.; SILVA, G. V. (org.). Repensando o império romano: perspectivas socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad; Vitória: EDUFES, 2006.
MENDES, Norma Musco; OTERO, Uiara Barros. Religiões e as questões de cultura, identidade e poder no Império Romano. Phoînix, Rio de Janeiro, 11: p. 196-220, 2005.
MOMIGLIANO, Arnaldo. As raízes clássicas da historiografia moderna. Tradução Maria Beatriz Borba Florenzano. Bauru: EDUSC, 2004.
NICOLAI, Roberto. The place of History in the Ancient World. In: MARINCOLA, John (ed.). A companion to Greek and Roman historiography. Oxford: Blackwell Publishing, 2007.
NIPPEL, Wilfried. Public order in ancient Rome. New York: Cambridge University Press, 2003.
OBER, Josiah. Mass and elite in democratic Athens: rhetoric, ideology, and the power of the people. Princeton: Princeton University Press, 1989.
RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. Tradução de Ângela Leite Lopes. São Paulo: Ed. 34, 1996.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução Alain François [et al.]. Campinas: Unicamp, 2008.
SANO, Lucia. Sendo homem: a guerra no romance grego. São Paulo: USP, 2013. [Tese]
SCHIAVONE, Aldo. Uma história rompida: Roma Antiga e Ocidente Moderno. Tradução Fábio Duarte Joly. São Paulo: USP, 2005.
SCHWARTZ, Jacques. Biographie de Lucien de Samosate. Bruxelles: Latomus, 1965.
SWAIN, Simon. Hellenism and empire: language, classicism and power in the Greek World, AD 50-250. Oxford: Clarendoon Press, 1998.
WHITMARSH, Tim. Greek literature and the Roman Empire: the politics of imitation. Oxford: Oxford University Press, 2001.
WHITE, Hayden. A questão da narrativa na literatura contemporânea da história. Revista de História, N. 2/3, Primavera, 1991, p. 47-89.
WOOD, Ellen. Capitalismo e democracia. In: BORON, Atilio (org.) [et al.]. A teoria marxista hoje: problemas e perspectivas. Buenos Aires: CLACSO, 2007.
WOOD, Neal. Cicero’s social and political thought. Berkeley; Los Angeles; Oxford: University of California Press, 1991.
WOODMAN, A. J. Rhetoric in classical historiography: four studies. London; New York: Routledge, 1988.
WALLACE-HADRILL, Andrew. Rome’s cultural revolution. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.



