Escrever é gritar sem ruído
os silêncios na escrita de Marguerite Duras
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.28.1.33-49Palavras-chave:
testemunho, memória, Hiroshima mon amour, La douleur, Marguerite DurasResumo
Neste artigo, analisamos dois textos de Marguerite Duras, Hiroshima mon amour (1960) e La douleur (1985), para refletir acerca dos silêncios nessa escrita, compreendidos também como gritos sem ruído. Integrante da Resistência Francesa e do Partido Comunista durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Duras viveu os horrores desse período, especialmente após a prisão do marido em um campo de concentração. Ao escrever sobre a guerra, porém, ela rompe com toda busca de representação de uma realidade, propondo justamente o contrário: expor a insuficiência da língua diante do desastre. Em ambos os textos, e ao longo de praticamente toda a sua obra, Duras deixa as palavras fazerem silêncio, como modo também de testemunhar, no limite da linguagem. Ao longo desta análise, dialogamos com Gilles Deleuze, Giorgio Agamben e Márcio Seligmann-Silva buscando refletir acerca dos silêncios e das (im)possibilidades de testemunho na escrita durassiana.
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