Da crônica ao romance
guerras turco-russas em História de Quinze Dias e Dom Casmurro, de Machado de Assis
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.28.3.88-110Palavras-chave:
literatura e história, literatura e imprensa, composição de narradores, Machado de Assis, guerras turco-russasResumo
O presente artigo aborda as crônicas de História de Quinze Dias e o romance Dom Casmurro por meio de um tema comum às duas obras, que são os conflitos turco-russos na história do século 19. A partir da relação entre literatura e imprensa no oitocentos, analisa-se como a experimentação nos jornais possibilitou um laboratório de escrita ao prosador e como a circularidade entre formas jornalísticas e literárias pode ser observada, inclusive, na leitura comparada desses títulos de Machado de Assis. Conclui-se que tanto na década de 1870 quanto na década de 1890, nos registros da crônica e do romance, há a articulação formal de ironias, deslocamentos e lacunas no tratamento do assunto da guerra. Desse modo, é possível traçar um caminho em que os recursos literários na figuração dos personagens e do narrador não confiável em Dom Casmurro filiam-se a recursos de literariedade na crônica de Manassés, pseudônimo de Machado de Assis na série História de Quinze Dias. Adicionalmente, concluímos que recursos de literariedade operam por deslocamento tanto no domínio da imprensa quanto no da literatura, no caso da obra machadiana, para contornar a rasura historiográfica brasileira quanto ao trauma da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai.
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