v. 28 n. 3 (2022): Literatura e história: o passado presente nas obras literárias
Obras literárias que incorporam tempos remotos constituem um gênero próprio, o romance histórico. Este oferece novas possibilidades para imaginar outras épocas e, também, para abstrair a contemporaneidade – pois, ao incorporar um fato do passado, o escritor o atualiza e, dessa forma, produz novos sentidos críticos para um acontecimento situado em um tempo distante, o que pode aprofundar as percepções do seu próprio tempo.
Na literatura brasileira do século XX, destacam-se algumas produções ambientadas em épocas conhecidas por seus autores apenas por meio dos estudos da história. São os casos, por exemplo, de Calabar (1973), de Chico Buarque, assim como dos romances O retrato do rei (1991), de Ana Miranda, Os sinos da agonia (1974), de Autran Dourado, ou A casca da serpente (1989), de José J. Veiga – os quais, no século XXI, tematizaram os primórdios da colonização portuguesa, a Guerra dos Emboabas, a Vila Rica barroca e a guerra de Canudos, respectivamente. Mas o que justifica um autor de literatura ou um realizador de cinema (no caso de filmes e novelas de época) desenvolver narrativas de ficção situadas em outros tempos? O que os faz querer reconstituir uma época diferente daquela em que vive? Conceitos como “nostalgia” ou “trauma” seriam capazes de explicar esse impulso criativo?
Essas perguntas foram propostas pelo dossiê “Literatura e história: o passado presente nas obras literárias”, que agora apresenta análises de obras de literatura em que fatos históricos foram tematizados por escritores brasileiros ou estrangeiros.



