v. 21 n. 3 (2015): Paisagem: substância lenhosa da língua
Desde o Iluminismo, a paisagem é vista, comumente, como uma construção humana enquadrada no campo das representações. Nessa direção, é a partir da capacidade do homem de representar a paisagem por palavras, sons e imagens que ela passa a existir, ou seja, somente quando é delimitada no campo do humano pode-se falar dela. Nesse contexto, ela nos deu uma nova dimensão espacial, a perspectiva, oferecendo-nos o abismo e o horizonte, por exemplo. Mas e se caminharmos em outra direção? Se não concebermos a paisagem como uma construção do homem, mas como o que sempre esteve lá a nos espreitar como uma força, uma potência, apontando-nos justamente o que a representação não encerra? Se pensarmos, com Agamben, que o limite da língua não está, necessariamente, no silêncio, no indizível, mas na "substância lenhosa da língua", para onde nos dirigiríamos? E se tomássemos a perspectiva como uma orientação não somente espacial, mas também ontológica, na qual todo habitante do planeta teria um modo de vida a ser compartilhado, vislumbrando uma noção de identidade mais aberta, menos binária, em que se conceberia o outro não mais como um espelho, mas como um destino, como escreveu Viveiro de Castro sobre os Tupinambá? Para onde caminhariam a literatura e a crítica literária?



