Mentes que resistem e corpos que padecem
memórias das "putas comunistas" na literatura brasileira contemporânea
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.28.3.33-46Palavras-chave:
mulheres militantes, ditadura militar, memória, literaturaResumo
Partindo do pressuposto de que a literatura é uma das mais significativas estratégias de revisitação do passado, bem como de conservação de suas memórias, este artigo analisa o romance O corpo interminável (2019), da escritora brasileira Claudia Lage, como uma potente manifestação que resgata e visibiliza as histórias de mulheres militantes políticas que integraram a oposição à ditadura civil-militar de 1964, as chamadas “putas comunistas” pela repressão (COLLING, 2005). Tendo em vista que a história do regime ditatorial foi escrita majoritariamente por homens e também protagonizada por homens, apesar da comprovada efetiva participação de mulheres, o objetivo deste estudo é contribuir com a desconstrução do monólogo masculino que fundamenta a historiografia do período. Para tanto, analisa-se a narrativa de Claudia Lage em alinhamento com a história de mulheres reais que ousaram rebelar-se contra o sistema autoritário e misógino da ditadura militar, buscando refletir também sobre a repressão específica que elas sofreram, principalmente a violência praticada em seus corpos e os efeitos traumáticos que desencadearam em suas mentes.
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