Mesmo campo, diferentes cores de pele a performance da raça, do colorismo e do racismo antinegro no futebol brasileiro
Conteúdo do artigo principal
Resumo
Este artigo investiga como processos de racialização e a ideologia do colorismo operam nos jogos de futebol disputados, na cidade de São Paulo, entre times de brasileiros negros contra times de brasileiros brancos entre 1927 e 1939 e em uma partida de 2003 registrada pelo documentário Preto contra branco. Com base em interpretações de autores que analisaram textos jornalísticos sobre essas partidas, ele argumenta que esses jogos encarnam narrativas políticas que se contrapõem à ideologia do colorismo. Essas disputas também estabelecem uma divisão racial semelhante à regra da gota única nos Estados Unidos e subversivamente a reencenam para desestabilizar o mito da democracia racial no Brasil. Desafiando um discurso colorista que promove uma integração nacional limitada enquanto reforça uma hierarquia racial, essas partidas representam uma crítica ao racismo e ao mito da harmonia entre as raças. Eles também contestam a noção redutora de Gilberto Freyre de que os afro-brasileiros jogam o futebol como “uma arte de songamonga”.
Downloads
Detalhes do artigo
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
2. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (veja O Efeito Acesso Livre).
Referências
ABRAHÃO, Bruno; CALDAS, Francisco; SOARES, Antonio. O ex-jogador de futebol Arthur Friedenreich em museus da cidade de São Paulo. Revista Lusófona de Estudos Culturais. Universidade do Minho, Braga, v. 7, n. 2, p. 93-111, 2020.
ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. Futebol e diversidade cultural: Uma análise sobre a idealização dos jogos “preto x branco” em São João Clímaco/SP. Revista Espaço Plural. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon, v. 14, n. 29, p. 338-360, 2013.
ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. Futebol e lazer: Uma análise sobre o “racismo à brasileira” através dos jogos “preto x branco”. Licere. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 25, n. 3, p. 1-24, 2012.
ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. O elogio ao negro no espaço do futebol: entre a integração pós-escravidão e a manutenção das hierarquias sociais. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, Curitiba, v. 30, n. 2, p. 9-23, 2012.
ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. O futebol na construção da identidade nacional: uma análise sobre os jogos “pretos x brancos”. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 47-61, 2012.
ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. Os jogos de futebol “preto x branco” e a dramatização da questão racial no Brasil. Licere. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 14, n. 4, p. 1-17, 2011.
ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. Raça e civilidade nos jogos “preto x branco”. Movimento. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 22, n. 4, p. 1137-1148, 2016.
ANDREWS, George Reid. Blacks and Whites in São Paulo, Brazil, 1888-1988. Madison: University of Wisconsin Press, 1991.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Quando é dia de futebol. São Paulo, Companhia das Letras, 2014, e-book.
DEVULSKY, Alessandra. Colorismo. São Paulo: Editora Jandaíra, 2021.
FILHO, Mario. O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad X, 2010.
FOLLETT, Richard. The Spirit of Brazil: Football and the Politics of Afro-Brazilian Cultural Identity. In: OBOE, Annalisa; SCACCH, Anna (org). Recharting the Black Atlantic: Modern Cultures, Local Communities, Global Connections. New York: Routledge, 2008, p. 71-92.
FREYRE, Gilberto. Foot-ball mulato. Diario de Pernambuco, Recife, p. 4, 17 jun. 1938. Disponível em: https://bit.ly/3QWpED6. Acesso em: 30 mar. 2022.
FREYRE, Gilberto. Prefácio à primeira edição. In: FILHO, Mario (autor). O negro no futebol brasileiro. Mauad X, 2010.
OLIVEIRA-MONTE, Emanuelle. Blacks versus Whites: Self-Denomination, Soccer, and Race Representations in Brazil. Luso-Brazilian Review. University of Wisconsin Press, Madison, v. 50, n. 2, p. 76-92, 2013.
PIRES, Francisco Quinteiro. Ruídos raciais: A experiência sonora e violenta da miscigenação em O som ao redor de Kleber Mendonça Filho. Luso-Brazilian Review. University of Wisconsin Press, Madison, v. 57, n. 2, p. 32-55, 2020.
PRADO, Decio de Almeida. Tempo (e espaço) no futebol. Companhia das Letras, 2014, e-book.
PRETO contra branco. Direção: Wagner Morales. Brasil, 2004 (78 min), son., cor.
SCOTT, James. Domination and the Arts of Resistance: Hidden Transcripts. New Haven: Yale University Press, 1990.
SKIDMORE, Thomas. Black Into White: Race and Nationality in Brazilian Thought. Durham: Duke University Press, 1993.
TELLES, Edward. Race in Another America: The Significance of Skin Color in Brazil. Princeton: Princeton University Press, 2014.
WISNIK, José Miguel. Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.