Futebóis – da horizontalidade epistemológica à diversidade política

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Arlei Damo

Resumo

Este ensaio tem por objetivo recuperar o contexto no qual o conceito de “futebóis” foi forjado e de pensar seus usos possíveis no presente e no futuro dos estudos esportivos. Primeiramente, argumento que o conceito foi usado em um momento no qual a produção em ciências sociais sobre a temática esportiva encontrava-se em expansão, procurando se estabelecer enquanto um polo discursivo próprio. Sugiro que, naquela ocasião, a noção de futebóis objetivava promover uma horizontalidade epistemológica, não devendo as ciências sociais se aterem ao futebol de espetáculo. Atualmente nos encontramos noutro contexto, marcado pela contestação da proeminência androcêntrica e pela renovação do campo, sob diferentes aspectos. Se há duas décadas a noção de “futebóis” ajudou a perceber o amplo espectro de práticas futebolísticas pesquisáveis, nota-se no presente uma mobilização crítica no sentido de discutir as implicações políticas que perpassam a definição de temas e as formas de dialogar com certos movimentos esportivos e políticos que defendem as práticas não hegemônicas. Sugiro que esta mudança de perspectiva está em curso – atestada, por exemplo, pelo interesse notável pelo futebol de mulheres – e tem a ver também com mudanças ocorridas no futebol de espetáculo, as quais contribuíram para afastá-lo das classes populares, razão principal pela qual o futebol tornou-se um tema legítimo – ainda que periférico – no campo das ciências sociais brasileiras.

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Como Citar
DAMO, A. Futebóis – da horizontalidade epistemológica à diversidade política. FuLiA/UFMG , Belo Horizonte/MG, Brasil, v. 3, n. 3, p. 37–66, 2019. DOI: 10.17851/2526-4494.3.3.37-66. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/fulia/article/view/14644. Acesso em: 28 mar. 2024.
Seção
DOSSIÊ
Biografia do Autor

Arlei Damo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Possui mestrado e doutorado em Antropologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em 2003/2004 foi estagiário de pesquisa junto ao Institut dEthnologie Méditerranéenne et Comparative (Université dAix-Marseille I & III). Pesquisador do CNPq. Autor dos livros Do dom à profissão: a formação de futebolistas no Brasil e na França (prêmio Capes e Anpocs de melhor tese de 2005), Futebol e identidade social e coautor com Ruben Oliven de Fútbol y cultura (Buenos Aires, Argentina) e Megaeventos Esportivos no Brasil. Além do interesse por temas na área de antropologia/sociologia do esporte, desenvolve pesquisa na área da antropologia da economia e da política.
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