Estética do movimento e adestramento do olhar: considerações sobre o futebol brasileiro de mulheres

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Talita Machado Vieira

Resumo

O presente artigo, de natureza teórico-conceitual, questiona os juízos de torcedores sobre o futebol de rendimento praticado por mulheres, qualificando-o como pouco estimulante e não atrativo. Propusemos o exame sobre como a categoria gênero colabora para tal avaliação, partindo do entendimento do futebol como fenômeno estético e buscando evidenciar o caráter relacional da experiência que se produz no encontro entre torcedor e partida. Procuramos identificar os elementos que influem na avaliação de uma partida como boa ou bela. Posteriormente, nos debruçamos sobre a noção de percepção e as condições que a afetam e produzem enquanto matrizes perceptivas, nos aproximando do conceito de habitus. À luz dessas considerações, concluímos que o habitus esportivo, particularmente o futebolístico, no caso do Brasil, revela, também, a presença de um habitus de gênero pautado na diferenciação entre seres humanos, sobretudo com base na morfologia corporal. Assim, podemos afirmar que o futebol praticado por mulheres não evoca, por si mesmo, uma experiência estética desagradável, mas convoca a ampliação das sensibilidades do torcedor para acolher outras formas de manifestação deste esporte.

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Seção

DOSSIÊ

Biografia do Autor

Talita Machado Vieira, UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE ASSIS.

Psicóloga pela Universidade Estadual de Londrina (2013)

Mestra em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (2017)

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista.

Como Citar

Estética do movimento e adestramento do olhar: considerações sobre o futebol brasileiro de mulheres. FuLiA/UFMG , Belo Horizonte/MG, Brasil, v. 4, n. 1, p. 51–71, 2019. DOI: 10.17851/2526-4494.4.1.51-71. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/fulia/article/view/14657. Acesso em: 24 dez. 2024.
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