Vínculos afetivos e sexuais no contexto prisional

O estudo de caso de uma mulher encarcerada

Autores

Palavras-chave:

Relacionamentos afetivo-sexuais, Mulheres aprisionadas, Aprisionamento, Gênero, Teoria do Apego

Resumo

O presente estudo pretende refletir acerca dos relacionamentos afetivo-sexuais de uma mulher aprisionada. Trata-se do recorte da tese de uma das autoras, na qual foram efetuados seis estudos de caso com mulheres encarceradas. Uma das histórias foi escolhida por mostrar padrões de apego ao longo da vida e trazer questionamentos acerca do sistema carcerário. Para a aquisição dos dados, além de um diário de campo, realizaram-se entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas posteriormente. Para a análise, utilizaram-se os seguintes referenciais teóricos: Teoria do Apego, de John Bowlby; criminalidade feminina, a partir do conceito de gênero; relacionamentos afetivos no contexto criminal e prisional. Foi perceptível que os modelos relacionais vivenciados na infância têm engendrado as escolhas da participante e trazido implicações para o seu processo de subjetivação. Embora anseie por afeto e constituição de uma família tradicional, ela evita a proximidade, uma característica das pessoas com estilo de apego evitativo. Evidenciaram-se a violência de gênero, a necessidade de questionamento das restrições ao contato impostas nas prisões e da atual política de encarceramento brasileira.

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Biografia do Autor

Ana Cristina Costa Figueiredo , Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Possui graduação em Psicologia tipo sanduíche pela St. Thomas Aquinas College (2009) e Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2011). É Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2013) e Especialista em Terapia de Casal e Família pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2018). Atualmente, realiza Doutorado em Psicologia - Intervenções Clínicas e Sociais - tipo sanduíche pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Universidade do Minho / Braga, Portugal. 

Márcia Stengel , Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Possui doutorado em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2004) e pós-doutorado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2013). É graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1992) e mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1996). Atualmente é Professora da Graduação e do Programa de Pós-graduação de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. É membro do Conselho de Ética em Pesquisa da PUC Minas. Atualmente é membro do Colegiado de Coordenação Didática do Programa de Pós-graduação de Psicologia da PUC Minas, cargo que ocupou entre 2008 e 2013.

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Publicado

2024-04-28