A segregação socioespacial constitui uma das faces mais importantes da desigualdade social e é parte promotora da mesma, tanto em nível simbólico quanto em nível econômico: à ilegalidade fundiária soma-se a dificuldade de acesso aos serviços e infraestruturas urbanos, menos oportunidades de emprego e maior exposição à violência. Nesse contexto, é no plano do cotidiano, vinculado à apropriação, utilização e ocupação de lugares, que se efetiva a produção do espaço, em um processo continuo de hierarquização e fragmentação, no qual o habitus tem importância central, envolvendo um sistema aberto de ações e percepções adquiridas a partir das experiências sociais, tanto em sua dimensão corpórea quanto simbólica. É sobre esse tema de estudo que o presente artigo se debruça, investigando as dinâmicas invisíveis que organizam social e territorialmente os assentamentos informais, ampliando a compreensão das dinâmicas territoriais e de apropriação do espaço. Tem-se por objeto de estudo o município de Curitiba (PR, Brasil), especificamente a Vila Três Pinheiros. Os resultados evidenciam uma complexidade de relações e espacialidades, revelando um caleidoscópio de territorialidades, onde lugares se sobrepõem, em um complexo emaranhado de relações no qual evidenciam-se múltiplos níveis de segregação socioespacial. Permite-se, assim, transpor o entendimento dicotômico pausteurizador de cidade formal x cidade informal em direção a uma relação menos linear e mais multifacetada de relações complexas.
Referências
ABRAMO, Pedro. A cidade COM-FUSA: a mão inoxidável do mercado e a produção da estrutura urbana nas grandes metrópoles latinoamericanas. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, 9(2), 2007.
ALMEIDA, A. A.; ALVIM, A. A. T. B.Segregação urbana na contemporaneidade: o caso da comunidade Poço da Draga na cidade de Fortaleza. II Seminário Nacional de Urbanização de Favelas, 2016. Anais... Rio de Janeiro, 2016.
AZEVEDO, S. de; MARES GUIA, V. R. dos. Os “dois lados da moeda” nas propostas de gestão metropolitana: virtude e fragilidade das políticas. In: CASTRO, E.; WOJCIECHOWSKI, M. J. (2010). Inclusão, colaboração e governança urbana: perspectivas brasileiras. Rio de Janeiro: Observatório das metrópoles, 2010.
BARBOSA, J. L.; SILVA, J. de S. e. As favelas como territórios de reinvenção da cidade. Cadernos de Desenvolvimento Fluminense, n. 1, 2013.
BOURDIEU, Pierre.Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004. Trad. Cassia da Silveira
BOURDIEU, Pierre.Social Space and the Genesis of Appropriated Physical Space. Int. J. Urban Reg. Res., 42, 2018, p. 106-114.
BRENNER, N.; SCHMID, C. The ‘Urban Age’ in Question. International Journal of Urban and Regional Research, 38(3), 2014, p. 731-755.
CARLOS, A. F. A.O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007.
CARVALHO, N. M. Ambiências Noturnas: Arquiteturas e Subjetividades em cenários urbanos cariocas. Dissertação (mestrado) – UFRJ/PROARQ/ Programa de Pós-graduação em Arquitetura, 2013. 193 f. Rio de Janeiro: UFRJ.
DUARTE, C. R. S.Olhares possíveis para o pesquisador em arquitetura. Revista Interfaces, n, 13, 2010, p. 130 a 146.
FISCHER, G. Psicologia social do ambiente. Lisboa: Instituto Piaget,1994.
GODOI, A. S. Estudo de Caso Qualitativo. In: GODOI, C.; BANDEIRA-DEMELLO, R.; Silva, A. Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais. São Paulo: Saraiva, 2006.
GOTTDIENER, M. The Social Production of Urban Space. Austin: University of Texas Press, 1997.
HALL, P. Cities of Tomorrow: An Intellectual History of Urban Planning and Design Since 1880. Somerset: Wiley, 2014.
HARVEY, David. Spaces of Capital: Towards a Critical Geography. Edinburh: Edinburgh University Press, 2001.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Aglomerados subnormais - Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
KOWARICK, L. A espoliação urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
LAMAS, J. M. R. G. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.
LEFEBVRE, H. The Urban Revolution. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2003.
MARQUES, E.Urban Poverty, Segregation and Social Networks in São Paulo and Salvador, Brazil. International Journal of Urban and Regional Research, 39, 2015, p. 1067-1083.
NOBRE, E. A. C. Precariedade do habitat e política de habitação de interesse social: o caso da Grande São Paulo. In: Pereira, P.; Hidalgo, R. (eds.). Producción Inmobiliaria y reestructuración metropolitana en América Latina. Santiago: Pontificia Universidad Católica de Chile/FAUUSP. p. 245-256, 2008.
QUILLIAN, L.Segregation and Poverty Concentration: The Role of Three Segregations. American Sociological Review, 77(3), 2012, p. 354–379.
RAPPORT, N.; OVERING, J.Social and cultural anthropology: the key concepts. London; New York: Routledge, 2000.
RIBEIRO, L. C de Q.; SANTOS JR., O. A. dos. As grandes cidades e a questão social brasileira: reflexões sobre o estado de exceção nas metrópoles brasileiras. In: CASTRO, E.; WOJCIECHOWSKI, M. J. (Orgs.). Inclusão, colaboração e governança urbana: perspectivas brasileiras. Rio de Janeiro: Observatório das metrópoles, 2010.
ROLNIK, R.; KLINK, J.Crescimento Econômico e desenvolvimento urbano: por que nossas cidades continuam tão precárias? Revista Novos Estudos CEBRAP, n. 89, p. 89 – 109, 2011.
SCHEIBE, A. H.; TEZOTTO, A. da S.; SOUZA E SILVA, A.; HIRT, B. SILVA, F. L. Intervenção multidisciplinar em migrantes haitianos. 14º Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade. Anais. Curitiba, 2017.
SCHMID, C.; KARAMAN, O.; HANAKATA, N. C.; KALLENBERGER, P.; KOCKELKORN, A.; SAWYER, L.;WONG, K. P. Towards a new vocabulary of urbanisation processes: A comparative approach. Urban Studies, 55(1), 2018.
SOJA, E W. Thirdspace: journeys to Los Angeles and other real and imagined places. Oxford: Blackwell, 2000.
TORRES, H. da G.;MARQUES, E. Políticas sociais e território: uma abordagem metropolitana. São Paulo em Perspectiva, v. 18, n. 4, 2004.
TUAN,Y.Space and Place: The Perspective of Experience. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2001.
UNITED NATIONS - UN (2017). New Urban Agenda. Available at .
WAGNER, S. G.; Duarte, C. R. A Ambiência Peculiar do lugar quintal nas residências da zona norte do Rio de Janeiro. Revista Interfaces, 22(1), 2015.
YIN, R. K. Case Study Research. London: Bookman, 2005.