A segregação socioespacial constitui uma das faces mais importantes da desigualdade social e é parte promotora da mesma, tanto em nível simbólico quanto em nível econômico: à ilegalidade fundiária soma-se a dificuldade de acesso aos serviços e infraestruturas urbanos, menos oportunidades de emprego e maior exposição à violência. Nesse contexto, é no plano do cotidiano, vinculado à apropriação, utilização e ocupação de lugares, que se efetiva a produção do espaço, em um processo continuo de hierarquização e fragmentação, no qual o habitus tem importância central, envolvendo um sistema aberto de ações e percepções adquiridas a partir das experiências sociais, tanto em sua dimensão corpórea quanto simbólica. É sobre esse tema de estudo que o presente artigo se debruça, investigando as dinâmicas invisíveis que organizam social e territorialmente os assentamentos informais, ampliando a compreensão das dinâmicas territoriais e de apropriação do espaço. Tem-se por objeto de estudo o município de Curitiba (PR, Brasil), especificamente a Vila Três Pinheiros. Os resultados evidenciam uma complexidade de relações e espacialidades, revelando um caleidoscópio de territorialidades, onde lugares se sobrepõem, em um complexo emaranhado de relações no qual evidenciam-se múltiplos níveis de segregação socioespacial. Permite-se, assim, transpor o entendimento dicotômico pausteurizador de cidade formal x cidade informal em direção a uma relação menos linear e mais multifacetada de relações complexas.
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