Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Minas Gerais (NPGAU/UFMG); Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Fluminense (PPGAU/UFF); graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFV; trabalhou como Arquiteta e Urbanista no Escritório Técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de Mariana entre 2014 e 2019.
Mariana, 05 de novembro de 2015: uma avalanche de rejeitos minerais decorrente do rompimento da barragem do Fundão, de responsabilidade das empresas Samarco/Vale/BHP Billiton, atingiu Bento Rodrigues, Camargos, Bicas, Ponte do Gama, Paracatu de Cima, Paracatu de Baixo, Pedras e Campinas, no município de Mariana-MG, além de outras diversas localidades dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, percorrendo o rio Doce até desaguar no Oceano Atlântico. O desastre-crime resultou em impactos socioambientais de drásticas proporções e, a partir de então, iniciou-se a luta da população atingida, que já perdura quatro anos, pelas devidas indenizações, reparações e compensações. A relação de dominação estabelecida pela Fundação Renova, criada pelas empresas responsáveis pelo desastre-crime, engendra em Mariana um quadro de contínua violação de direitos, dentre os quais, o direito à apropriação dos territórios atingidos. Para a população atingida de Mariana, as festas são formas de fortalecer a luta e os vínculos afetivos entre eles, e deles com o território. São experiências coletivas e práticas espaciais que resistem ao modelo hegemônico de dominação relacionado à exploração mineral no território e que reafirmam o sentimento de pertencimento e o desejo pelo reestabelecimento dos modos de vida destruídos. Sob essa perspectiva, a festa é reconhecida como um instrumento de resistência e de luta pelo direito à apropriação cotidiana dos territórios atingidos de Mariana.
Referencias
ACSELRAD, H.; MELLO, C.; BEZERRA, G. O que é justiça ambiental. Rio de Janeiro: Geramond, 2009.
FISHER, Mônica. Mariana: os dilemas da preservação histórica num contexto social adverso. Dissertação de Mestrado em Sociologia urbana – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 1993.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO.Plano de conservação, valorização e desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana. Belo Horizonte, 1975.
HARVEY, David. Cidades Rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes Editora, 2014.
JACQUES, Paola. Zona de tensão: em busca de microresistências urbanas. In: JACQUES, P.; BRITTO, F. (Org.). Corpocidade: debates, ações e articulações. Salvador: EDUFBA, 2010.
LEFEBVRE, Henri. The production of space. Oxford: Blackwell, 1991.
MANSUR, M.; WANDERLEY, L.; MILANEZ, B.; SANTOS, R.; PINTO, R.; GONÇALVES, R.; COELHO, T. Antes fosse mais leve a carga: introdução aos argumentos e recomendações referente ao desastre da Samarco/Vale/BHP Billiton. In: ZONTA, M.; TROCATE, C. (Orgs.). Antes fosse mais leve a carga: reflexões sobre o desastre da Samarco/Vale/BHP Billiton. Marabá-PA: Editorial iGuana, 2016.
RIBEIRO, Ana Clara. Dança de sentidos: na busca de alguns gestos. In: JACQUES, P/ e BRITTO, F. (Org.). Corpocidade: debates, ações e articulações. Salvador: EDUFBA, 2010.
SANTOS, R.; WANDERLEY, L. Dependência de barragem, alternativas tecnológicas e a inação do Estado: repercussões sobre o monitoramento de barragens e o licenciamento do Fundão. In: ZONTA, M.; TROCATE, C. (Orgs.). Antes fosse mais leve a carga: reflexões sobre o desastre da Samarco/Vale/BHP Billiton. Marabá-PA: Editorial iGuana, 2016.
SOUZA, Marcelo Lopes de. Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2016.
WANDERLEY, Luiz. Indícios de Racismo Ambiental na Tragédia de Mariana: resultados preliminares e nota técnica. Grupo Política,Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS). Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, 2015.