Professor na área de Linguagens e Artes da Licenciatura Indígena da Universidade Federal do Acre, Campus Floresta, em Cruzeiro do Sul, onde coordena o LABI – Laboratório de Imagem e Som. Realizou os filmes O espírito da floresta (2012) e O sonho do nixi pae (2015). Desde 2009 desenvolve pesquisas com Ibã Huni Kuin e o coletivo MAHKU.
Tomando como ponto de partida os comentários de dois filmes, O sonho do nixi pae – O Movimento dos Artistas Huni Kuin (Amilton Mattos, 2015) e Nixpu pima – Rito de passagem Huni Kuin (Pãteani Huni Kuin, 2015), o artigo trata dos desafios colocados pelo contexto de Universidades amazônicas em que os povos indígenas já não são objeto de conhecimento e sim passam a se utilizar dos recursos da investigação acadêmica para inventar novos espaços, novas composições, novas linguagens para seguirem praticando seus saberes menores e indisciplinados. Procura mostrar assim que a autonomia conceitual dos povos amazônicos, isto é, a sua autonomia de pensamento, tem se dado pela afirmação de suas próprias formas de investigar, de dar sentido à pesquisa, de inventar novos devires. A prática da produção de conhecimentos coletivos e a constituição de grupos de pesquisadores-artistas indígenas aponta novos campos de força para instituições de ensino, superior ou não, que parecem cada vez mais distantes da realidade amazônica. Nesses coletivos, que estão dentro e fora da academia, a produção de conhecimento se dá enquanto agenciamento maquínico, em que o saber minoritário toma o majoritário como condição de afirmação da diferença, possibilidade de devir, e não espera dele a distribuição dos direitos que lhe caberiam. Os velhos conhecimentos huni kuin dos rituais, dos cantos da ayahuasca se associam à arte e ao audiovisual para comporem máquinas, agenciamentos maquínicos que não servem para serem lidos ou interpretados, mas para engajar a própria Universidade em devires-huni kuin.
Citas
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