Este artigo reflete sobre as transformações no modo de organização da festa mais tradicional da comunidade quilombola do Remanso na Chapada Diamantina (Bahia): a festa de São Francisco das Chagas, celebrada anualmente. O texto apresenta o contexto da festa de modo a revelar as formas próprias de resistência que culminam em um processo de politização dos seus agentes. Trata-se de uma experiência que revela a emergência de um saber e práticas singulares, sujeitas a disputas, ausência de apoio e negação de direitos e que se articulam com outras formas locais de festejar: a Marujada Quilombola do Remanso e as cerimônias de Caruru dedicadas aos santos Cosme e Damião. Tendo estes três momentos como centrais na análise, o artigo pontua os festejos identitários como importantes espaços de construção de políticas e mediação, dando ênfase ao seu processo de organização e à atuação das mulheres na base da tomada de decisões, na organização e na condução dos rituais. Ao olhar para os sentidos destas três formas de festejar, temos uma histórica invisibilidade e vulnerabilidades que atravessam um cotidiano cuja potência se afirma a partir da sua base identitária, o Jarê, religião de matriz africana exclusiva da região das Lavras Diamantinas, onde se encontra o Remanso.