Os judeus e as palavras, um dueto

Autores

  • Saul Kirschbaum Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.17851/1982-3053.11.20.276-288

Palavras-chave:

Amós Oz, Fania Oz-Salzberger, Condição judaica

Resumo

Os judeus e as palavras, do romancista Amós Oz e sua filha, a historiadora Fania Oz-Salzberger, apresenta características que chamam a atenção: a) não obstante o escritor ser dos mais prolíficos autores em hebraico, esse livro foi escrito em inglês; b) à parte de ampla obra ficcional, Oz já publicara cinco livros de ensaios, versando sobre a questão palestina, as dificuldades de relacionamento entre judeus e árabes, os obstáculos à construção da paz, os problemas entre diferentes grupos de judeus em Israel; este livro, que os autores denominam de “ensaio”, talvez seja mais bem referido como obra de divulgação; c) se Oz já publicara cerca de trinta livros, a sua filha, Fania, contava com apenas duas obras autorais; d) enfim, a experiência de coautoria proporcionou-lhes um relacionamento complexo, no qual se notam “resíduos de um diálogo”, mas também “conflito intergeracional, diferentes perspectivas de gênero, ou escaramuças sutis de ficção e não ficção”. Este artigo reflete sobre a obra em foco, enfatizando as questões suscitadas pela coautoria, vista como um dueto, vozes que em geral soam em uníssono, mas às vezes se dissociam e em outras ocasiões convergem. Essas desafinações transparecem em trechos como “A web, como a historiadora entre nós insiste em tentar persuadir o romancista entre nós, [...]”, ou “Durante muito tempo, a historiadora entre nós pensou que o romancista entre nós tinha inventado o truque de mudança de texto, este minúsculo yod subversivo”. Nesta abordagem, pensamos que os autores descrevem o povo judeu como uma espécie de orquestra, com diferentes vozes, diferentes timbres, diferentes afinações, e que não conta com um maestro. Também merece atenção o peso relativo da contribuição dos autores: a complexidade da partitura de cada voz e a eventualidade de uma voz abafar a outra. Na simultaneidade de diversos pares, pai-e-filha, escritor-e-historiadora, homem-e-mulher, que importância cada relação adquire face às outras.

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Biografia do Autor

Saul Kirschbaum, Universidade de São Paulo

Doutor em Letras pelo Programa de Pós-graduação em Estudos Judaicos e Árabes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

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Publicado

2017-06-07

Como Citar

Kirschbaum, S. (2017). Os judeus e as palavras, um dueto. Arquivo Maaravi: Revista Digital De Estudos Judaicos Da UFMG, 11(20), 276–288. https://doi.org/10.17851/1982-3053.11.20.276-288