Ludwik Fleck: pesquisador e prisioneiro

Autores

  • Ethel Mizrahy Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.17851/1982-3053.6.10.19-44

Palavras-chave:

Ciência, Campo de Concentração, Ludwik Fleck

Resumo

Quando o objetivo único de médicos e autoridades é desenvolver a ciência sem levar em conta os seres humanos, todos os caminhos ficam abertos para qualquer deformação, todas as regressões e degradações da desumanização tornam-se possíveis. E foi essa a realidade que Ludwik Fleck, judeu, médico, pesquisador e prisioneiro, se deparou nos campos de Auschwitz (Polônia) e Buchenwald (Alemanha). Ele foi detido sob pena de morte e assim obrigado a servir como “especialista” dos “cientistas” nazistas em pesquisas para o desenvolvimento e fabricação de vacina contra o tifo exantemático. No bloco 10 de Auschwitz, ele presenciou experimentos de esterilização em prisioneiras sob a chefia do Dr. Clauberg. Em Buchenwald, Fleck trabalhou no centro experimental de tifo exantemático, no bloco 46, na fabricação de vacinas. O meio científico já conhecia diversas vacinas eficientes, mas os experimentos com cobaias humanas foram levados adiante... Hoje, de um modo geral, admite-se que todas essas experiências feitas com prisioneiros não levaram a nenhuma descoberta. Essa vivência como prisioneiro/pesquisador de Fleck pode ser caracterizada pelo termo cunhado por Primo Levi, “zona cinzenta” e no presente artigo pretendo discutir a questão do privilégio nos campos de concentração e a “ciência” desenvolvida nesse ambiente de terror.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ethel Mizrahy, Universidade Federal de Minas Gerais

Doutora em História pelo Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é coordenadora acadêmica do Centro de Memória da Faculdade de Medicina da UFMG.

Referências

AMSTERDAMSKA, Olga; BONAH, Christian; BORCK, Cornelius; FEHR, Johannes; HAGNER, Michael; KLINGBERG, Marcus; LÖWY, Ilana; SCHLÜNDER, Martina; SCHMALTZ, Florian; SCHNELLE, Thomas; TAMMEN, Antke; WEINDLING, Paul; ZITTEL, Claus. Medical Science in the light of a flawed study of the Holocaust: A comment on Eva Hedfor’s paper on Ludwik Fleck. In: Social Studies of Science, 2008, p. 38, 937. DOI: 10.1177/0306312708098609.

BERNADAC, Christian. Médicos da esperança. Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores,1981. 324p.

BERNADAC, Christian. Médicos malditos. Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores, 1980. 275 p.

BIER, Otto. Bacteriologia e imunologia em suas aplicações à medicina e à higiene. 6 ed. São Paulo: Melhoramentos,1953.821p.

BLACK, Edwin. IBM e o Holocausto: a aliança estratégica entre a Alemanha nazista e a mais poderosa empresa americana. Rio de Janeiro: Campus, 2001.584p. BLACK, Edwin. A guerra contra os fracos: a eugenia e acampanha norte‑americana para criar uma raça superior. São Paulo: A Girafa Editora, 2003. 860p.

CORTOIS, Stéphane; WERTH, Nicolas; PANNÊ, Jean‑Louis; PACZKOWSKI, Andrzei; BARTOSEK, Karel; MARGOLIN, Jean‑Louis. O livro negro do comunismo: crimes, terror e repressão. Rio de Janeiro: Bertrand Brazil, 1999.924p.

CUNHA, Aristides Marques da Cultura da “Rickettsia” do typho exathematico de S. Paulo na membrana chorioallatoide de embryão de gallinha. Brazil‑Médico, Rio de Janeiro, v.50, n.7, p. 133‑134, 15 fev. 1936.

CYTRYNOWICZ, Roney. Memória da Barbárie: a história do genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Edusp; Nova Stella, 1990.

FLECK, Ludwik. Specific antigenic substances in the urine of typhus patients. Textas Reports on Biology and Medicine, Summer, 1947, 5 (2), p. 168‑172.

GOLGHER, Isaías. A tragédia do comunismo judeu. Belo Horizonte: Editora Mineira, 1970.287p.

HACKETT, David A. (Org.). O relatório Buchenwald: o dia a dia em um campo de extermínio nos depoimentos dos sobreviventes. Rio de Janeiro: Record, 1998. 542p.

HEADFORS, Eva. Medical ethics in the wake of the Holocaust: departing from a postwar paper by Ludwik Fleck. Studies in History and Philosophy of Biological and Biomedical Sciences, 38 (2007), p. 642‑655.

HILBERG, Raul. The destruction of the European Jews. Revised and definitive edition. New York; London: Holmes&Méier, 1985. 3 vol. Vol 3.

HISTORICAL ATLAS OF THE HOLOCAUST. New York: United States Holocaust Memorial Museum; Macmillan Publishing; Simon & Schuster Macmillan,1996.252p.

HUMPHREY, J.H. Immunology for students of medicine. 2. ed. Great Britain: Oxford,1965.

JOHNSON, Paul. História dos judeus. Rio de Janeiro: Imago, 1995.

KOGON, Eugen. The Theory and Practice of Hell. New York: Farrar, 1950.

LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

MARRUS, Michael R. A assustadora história do Holocausto. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. 432p.

MILLER, Shaie. Um testamento. In: KUTCHINSKY, Meyer; GINSBURG, J. O conto ídiche. São Paulo: Perspectiva, 1966. p. 340‑366.

MOSING, Henrik. Methods of evaluation of typhus vaccine potency. Texas reports on Biology and Medicine, summer 1947,5 (2):173‑176.

NYISZLI, Milklos. Médico em Auschwitz. Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores, 1980. 276 p.

RECORDS OF THEUNITED STATES NUREMBERG WAR CRIMES TRIAL, Unites States of America v. Carl Krauch et al (case VI), August 14, 1947‑July 30, 1948.

REDFORS, Eva. The reading of scientific texts: questions on interpretation and evaluation, with special reference to the scientific writings of Ludwik Fleck, Stud Hist Philos Biol Biomed Sci.2007 Mar;38(1):136‑58. Epub 2007 Feb 12.

RHODES, Richard. Mestres da morte: a invenção do Holocausto pela SS nazista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.350p.

RIGG, Bryan Mark. Os soldados judeus de Hitler: a história que não foi contada das leis raciais nazistas e de homens de ascendência judaica nas Forças Armadas Alemãs. Rio de Janeiro: Imago, 2003. 524p.

SAKHAROV, Andrei. Meu país e o mundo: o famoso físico soviético escreve sobre os perigos da distensão, os problemas práticos do controle de armas, a injustiça e a repressão em seu país. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.129p.

SCHÄFER, Lothar, SCHNELLE, Thomas. Introdução. Fundamentação da perspectiva sociológica de Ludwik Fleck na teoria da ciência. In: FLECK, Ludwik. Gênese e desenvolvimento de um fato científico. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2010.p.1‑36.

SEMPRUM, Jorge. A escrita ou a vida. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 298p.SHERWOOD, N.P. Immunology. 2 ed. St. Louis: Mosby,1941.639p.

SEMPRUM, Jorge. A grande viagem. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1973. 176p.

SIERAKOWIAK, Dawid. O diário de David Sierakowiak: a visão do holocausto por um jovem do gueto de Lódz. Rio de Janeiro: Record, 1997. 331 p.

SNEH, Simja. Sin rumbo. Buenos Aires; Argentina: Editorial Milá, 1993.317p.

SOURNIA, Jean‑Charles; RUFFIE, Jacques. As epidemias na história do homem. Lisboa: Edições 70,1986.247p.

SZYBALSKI, Waclaw. Maintenance of human‑fed live lice in the laboratory and production of Weigl ́s exanthematous typhus vaccine. In: Proceedings of the EPA‑APS Symposium Manual on the MAINTENANCE OF ANIMAL/HUMAN AND PLANT PATHOGEN VECTORS. Las Vegas, Nevada, November 10,1998. [www.lwow.com.pl/Weigl.html] (acesso em 16/12/2010).

TODOROV, Tzvetan. Em face ao extremo. Campinas: Papirus, 1995. 350p.

TODOROV, Tzvetan. Memória do mal, tentação do bem: indagações sobre o século XX. São Paulo: ARX,2002.383p.

WEGRZYNEK, Hanna; WIECZOREK, Katarzyna. Mil anos dos judeus na Polônia. São Paulo: Instituto Adam Mickiewicz; Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba, 2008.

WIESEL, Elie. Holocausto: o canto de uma geração perdida. Rio de Janeiro: Documentário, 1987. 303p.

WIESEL, Elie. Mensageiros. São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1975. 223p.

WIESEL, Elie. Sinais do êxodo. Rio de Janeiro: Imago, 1988.189p.

WOODWARD, Theodore E. A historical account of the Rickettsial diseases with a discussion of unsolved problems, J. infect. Diseases, maio 1973,127 (5):583‑594.

WYNGAARDEN, SMITH. Cecil textbook of Medicine. 18th edition, W.B. Saunders Company,1988.

YAD VASHEM, Jerusalem. Document 0‑3/650 – Prof. Dr. Ludwik Fleck – bacteriologist.19586 p.

YERUSHALMI et al. Usos del olvido. Argentina, Buenos Aires: Ediciones Nueva Vision, 1989.

YERUSHALMI, Yosef Hayim. Zakhor: história judaica e memória judaica. Rio de Janeiro: Imago, 1992. 168 p.

ZINSSER, Hans. A textbook of Bacteriology. New York; London: D. Appleton and Compani,1929.1053p.

ZINSSER, Hans; BAYNE‑JONES, Stanhope. A textbook of Bacteriology. 8 ed. New York; London: D. Appleton Century Company Incorporated, 1939. 990p.

Downloads

Publicado

2012-03-30

Como Citar

Mizrahy, E. (2012). Ludwik Fleck: pesquisador e prisioneiro. Arquivo Maaravi: Revista Digital De Estudos Judaicos Da UFMG, 6(10), 19–44. https://doi.org/10.17851/1982-3053.6.10.19-44