A Obra Aberta de Ludwik Fleck

Autores

DOI:

https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2020u11971226

Palavras-chave:

Ludwik Fleck, sociologia do conhecimento, estilo de pensamento, acoplamento ativo, acoplamento passivo

Resumo

A perspectiva da sociologia do conhecimento do médico polonês Ludwik Fleck (1896–1961) vem ganhando destaque no meio acadêmico brasileiro nas últimas décadas e, em particular, na área de pesquisa em ensino de ciências. Objetivamos, nesse estudo teórico, apresentar elementos do pensamento desse autor que permitam caracterizar a abertura de sua obra, ou seja, aspectos que apresentam potenciais para a educação em ciências quando problematizados, ampliados e articulados. A partir da análise da obra principal de Fleck (livro publicado originalmente em 1935) e de seus sete artigos sobre epistemologia, foram identificados e abordados quatro desses elementos, a saber: o conceito de estilo de pensamento; os conceitos de acoplamento ativo e acoplamento passivo; a educação e a iniciação dos novatos em um estilo de pensamento; e a postura política de Fleck. Apontamos, ao final, algumas implicações para a área de ensino de ciências e estabelecemos um breve diálogo com parte da produção acadêmica da área que se utiliza desse referencial. Nossas reflexões sinalizam para a riqueza e relevância teórica e metodológica do referencial fleckiano para o desenvolvimento futuro da pesquisa em ensino de ciências.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Allchin, D. (2011). Evaluating knowledge of the nature of (Whole) Science. Science Education, 95(3), 518–542.

Anjos, M. C. R. dos (2014). Fronteiras na construção e socialização do conhecimento científico e tecnológico: Um olhar para a extensão universitária. (Tese de Doutorado em Educação Científica e Tecnológica). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Baldamus, W. (1972). The role of discoveries in social science. In T. Shanin (Ed.), The rules of the game: Cross-disciplinary essays on models in scholarly thought (pp. 276–302). Tavistock.

Baldamus, W. (1977). Ludwig Fleck and the development of the sociology of science. In P. R. Gleichmann, J. Goudsblum, & H. Korte (Eds.), Human figurations: Essays for Norbert Elias (pp. 135–156). Stichting Amsterdams Sociologisch Tijdschrift.

Binney, N. R. (2016). Ludwik Fleck’s ‘active’ and ‘passive’ elements of knowledge revisited: Circular arguments in the medical literature on inflicted head injury in the light of Fleck’s epistemology. Transversal: International Journal for the Historiography of Science, 1(1), 101–115.

Bloor, D. (1986). Some determinants of cognitive style in science. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck (pp. 387–397). Reidel Publish Company.

Brandão, X. S. G. (2013). Uma análise da formação de professores de Física do IFRN a partir da epistemologia de Ludwik Fleck. (Dissertação de Mestrado em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.

Carifio, J., & Perla, R. (2013). Not just a “Fleck” on the epistemic landscape: A reappraisal of Ludwik Fleck’s views of the nature of scientific progress and change in relation to contemporary educational and social issues. Research in Science Education, 43, 2349–2366. http://doi.org/10.1007/s11165-013-9361-2

Carneiro, J. A. (2015). Gênese e recepção do projeto epistemológico de Ludwik Fleck. Scientiæ Studia, 13(3), 695–705.

Chicóra, T., Aires, J. A., & Camargo, S. (2018). A epistemologia de Ludwik Fleck: Análise das produções do encontro nacional de pesquisa em educação em ciências entre os anos de 1997 e 2015. ACTIO: Docência em Ciências, 3(3), 6–25.

Clough, M. P. (2007). Teaching the Nature of Science to secondary and post-secondary students: questions rather than tenets. The Pantaneto Forum, 25. [Republicado (2008) em California Journal of Science Education, 8(2), 31–40]. https://www.researchgate.net/profile/Michael_Clough2/publication/272681759_Teaching_the_nature_of_science_to_secondary_and_post-secondary_students_Questions_rather_than_tenets/links/563ce1fa08ae45b5d289941b/Teaching-the-nature-of-science-to-secondary-and-post-secondary-students-Questions-rather-than-tenets.pdf.

Cohen, R., & Schnelle, T. (Eds.) (1986). Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck. Reidel Publish Company.

Condé, M. L. L. (Ed.) (2012a). Ludwik Fleck: Estilos de pensamento na ciência. Fino Traço.

Condé, M. L. L. (2012b). Ciência e Linguagem: Fleck e Wittgenstein. In M. L. L. Condé (Org.), Ludwik Fleck: estilos de pensamento na ciência (pp. 77–107). Belo Horizonte: Fino Traço.

Cutolo, L. R. A. (2001). Estilo de pensamento em educação médica: Um estudo do currículo do curso de graduação em medicina da UFSC. (Tese de Doutorado em Educação). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Delizoicov, D., Castilho, N., Cutolo, L. R. A., Da Rós, M. A., & Lima, A. (2002). Sociogênese do conhecimento e pesquisa em ensino: Contribuições a partir do referencial fleckiano. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 19(no especial), 52–69.

Driver, R. H., Asoko, H., Leach, J., Mortimer, E. F., & Scott, P. (1994) Constructing Scientific Knowledge in the Classroom. Educational Researcher, 23(7), 5–12.

Driver, R. H., Leach, J., Millar, R., & Scott, P. (1996). Young people’s images of science. Buckingham: Open University Press.

Fehr, J. (2012). Ludwik Fleck — sua vida e obra. In M. L. L. Condé (Org.), Ludwik Fleck: estilos de pensamento na ciência (pp. 35–50). Fino Traço.

Fleck, L. (1981). Genesis and development of a scientific fact (paperback edition). The University of Chicago Press [original de 1935].

Fleck, L. (1986a). Some specific features of the medical way of thinking. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: materials on Ludwik Fleck (pp. 39–46). Reidel Publish Company [original de 1927].

Fleck, L. (1986b). On the crisis of ‘reality’. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck (pp. 47–57). Reidel Publish Company [original de 1929].

Fleck, L. (1986c). Scientific observation and perception in general. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: materials on Ludwik Fleck (pp. 59–78). Reidel Publish Company [original de 1935].

Fleck, L. (1986d). The problem of epistemology. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck (pp. 79–112). Reidel Publish Company [original de 1936].

Fleck, L. (1986e). Problems of the science of science. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck (pp. 113–127). Reidel Publish Company [original de 1946].

Fleck, L. (1986f). To look, to see, to know. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck (pp. 129–151). Reidel Publish Company [original de 1947].

Fleck, L. (1986g). Crisis in science. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck (pp. 153–158). Reidel Publish Company [original de 1960].

Fleck, L. (2010). Gênese e desenvolvimento de um fato científico. Belo Fabrefactum [original de 1935].

Freitas, M. R. G. de (2018). A epistemologia de Ludwik Fleck em pesquisas sobre formação de professores de ciências no Brasil. (Dissertação de Mestrado em Educação). Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

Giedymin, J. (1986). Polish Philosophy in the inter-war period and Ludwik Fleck’s theory of thought-styles and thought-collectives. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck (pp. 179–215). Reidel Publish Company.

Gonçalves, F. P., Marques, C. A., & Delizoicov, D. (2007). O desenvolvimento profissional dos formadores de professores de Química: Contribuições epistemológicas. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 7(3), 1–16.

Hodson, D., & Wong, S. L. (2017). Going beyond the consensus view: broadening and enriching the scope of NOS-oriented curricula. Canadian Journal of Science, Mathematics and Technology Education, 17(1), 3–17.

Irzik, G., & Nola, R. (2011). A Family Resemblance Approach to the Nature of Science for Science Education. Science & Education, 20(7–8), 591–607.

Irzik, G., & Nola, R. (2014). New directions for Nature of Science research. In M. R. Matthews (Ed.). International Handbook of Research in History, Philosophy and Science Teaching. (pp. 999–1021). Springer.

Jarnicki, P. (2016). On the shoulders of Ludwik Fleck? On the bilingual philosophical legacy of Ludwik Fleck and its Polish, German and English translations. The Translator. http://doi.org/10.1080/13556509.2015.1126881

Junghans, M. (2011). Traduzindo Fleck: Entrevista com Georg Otte e Mariana Camilo de Oliveira. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 18(4), 1151–1158.

Kuhn, T. S. (1981). Foreword. In L. Fleck, Genesis and development of a scientific fact (paperback edition) (pp. vii–xi). The University of Chicago Press.

Lorenzetti, L. (2008). Estilos de pensamento em educação ambiental: Um estudo a partir das dissertações e teses. (Tese de Doutorado em Educação Científica e Tecnológica). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Lorenzetti, L., Muenchen, C., & Slongo, I. I. P. (2013). A recepção da epistemologia de Fleck pela pesquisa em educação em ciências no Brasil. Revista Ensaio, 15(3), 181–197.

Lorenzetti, L., Muenchen, C., & Slongo, I. I. P. (2016). The growing presence of Ludwik Fleck’s epistemology in science education research in Brazil. Transversal: International Journal for the Historiography of Science, 1(1), 52–71.

Lorenzetti, L., Muenchen, C., & Slongo, I. I. P. (2018). A crescente presença da epistemologia de Ludwik Fleck na pesquisa em educação em ciências no Brasil. R. Bras. Ens. Ci. Tecnol., 11(1), 373–404.

Löwy, I. (2012). Fleck no seu tempo, Fleck no nosso tempo: Gênese e desenvolvimento de um pensamento. In M. L. L. Condé (Org.), Ludwik Fleck: Estilos de pensamento na ciência (pp. 11–33). Fino Traço.

Macedo, R. S. de. O ensino de ciências por investigação e a prática pedagógica de professores licenciados no IF-UFBA. (Tese de Doutorado em Ensino, Filosofia e História das Ciências). Universidade Federal da Bahia, Salvador.

Maeyama, M. A. (2015) A escolha da especialidade médica – Estilos de Pensamento. (Tese de Doutorado em Saúde Coletiva). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Maia, C. A. (2011). Uma chave de leitura de Fleck para a pesquisa. História, Ciências, Saúde — Manguinhos, 18(4), 1174–1179.

Maia, C. A. (2012). Mannheim, Fleck e a compreensão humana do mundo. In M. L. L. Condé (Org.), Ludwik Fleck: Estilos de pensamento na ciência (pp. 51–76). Fino Traço.

Martins, A. F. P. (2015a). Natureza da Ciência no ensino de ciências: uma proposta baseada em “temas” e “questões”. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 32(3), 703–737.

Martins, A. F. P. (2015b). Knowledge about Science in Science Education Research from the Perspective of Ludwik Fleck’s Epistemology. Research in Science Education, 46(4), 1–14.

Matthews, M. R. (2012). Changing the focus: from nature of science to features of science. In M. S. Khine (Ed.). Advances in nature of science research. (pp. 3–26). Springer.

Merton, R. K. (2013). Ensaios de Sociologia da Ciência. Editora 34.

Moura, C. B., & Guerra, A. (2016). História Cultural da Ciência: Um caminho possível para a discussão sobre as Práticas Científicas no Ensino de Ciências?. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 16(3), 725–748.

Mourthé Junior, C. A. (2017). O desenvolvimento sustentável como um estilo de pensamento: Uma abordagem histórica. (Tese de Doutorado em História). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Muenchen, C. (2010). Disseminação dos três momentos pedagógicos: Um estudo sobre práticas docentes na região de Santa Maria/RS. Tese (Doutorado em Educação Científica e Tecnológica). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Niezwida, N. R. A. (2012). Educação Tecnológica com perspectiva transformadora: A formação docente na constituição de estilos de pensamento. (Tese de Doutorado em Educação Científica e Tecnológica). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Oliveira, B. J. (2012). Os circuitos de Fleck e a questão da popularização da ciência. In M. L. L. Condé (Org.), Ludwik Fleck: Estilos de pensamento na ciência (pp. 121–144). Fino Traço.

Oliveira, L. D. (2017). Modelo teórico para a interação professor-cientista a partir da escola de física do CERN: Um estudo de caso à luz da epistemologia de Fleck. (Tese de Doutorado em Educação em Ciências e Matemática). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Parreiras, M. M. M. (2018). Contribuições da epistemologia de Ludwik Fleck para a formação de professores em Educação do Campo: Um estudo dos estilos de pensamento sobre o conceito de natureza. (Tese de Doutorado em Educação). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Pessoa Jr., O. (2003). Conceitos de Física Quântica. Vol. 1. Editora Livraria da Física.

Pfuetzenreiter, M. R. (2002). A epistemologia de Ludwik Fleck como referencial para a pesquisa no ensino na área da saúde. Ciência & Educação, 8(2), 147–159.

Saito, M. T. (2019). A gênese e o desenvolvimento da relação entre Física Quântica e misticismo e suas contribuições para o Ensino de Ciências. (Tese de Doutorado em Ciências / Ensino de Física). Universidade de São Paulo, São Paulo.

Schäfer, L., & Schnelle, T. (2010). Introdução – Fundamentação da perspectiva sociológica de Ludwik Fleck na teoria da ciência. In L. Fleck, Gênese e desenvolvimento de um fato científico (pp. 1–36). Fabrefactum.

Schnelle, T. (1986a). Microbiology and Philosophy of Science, Lwów and the German holocaust: stations of a life – Ludwik Fleck 1896-1961. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck (pp. 3–36). Reidel Publish Company.

Schnelle, T. (1986b). Ludwik Fleck and the influence of the Philosophy of Lwów. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck (pp. 231–265). Reidel Publish Company.

Seidel, M. (2011). Relativism or Relationism? A Mannheimian Interpretation of Fleck’s Claims About Relativism. J. Gen. Philos. Sci., 42, 219–240. http://doi.org/10.1007/s10838-011-9163-z

Slongo, I. I. P. (2004). A produção acadêmica em ensino de biologia: um estudo a partir de teses e dissertações. (Tese de Doutorado em Educação). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Snow, C. P. (1995). As duas culturas e uma segunda leitura. EDUSP.

Stuckey, M., Heering, P., Mamlok-Naaman, R., Hofstein, A., & Eilks, I. (2015). The philosophical works of Ludwik Fleck and their potential meaning for teaching and learning science. Science & Education, 24, 281–298. http://doi.org/10.1007/s11191-014-9723-9

Toulmin, S. (1986). Ludwik Fleck and the historical interpretation of science. In R. Cohen, & T. Schnelle (Eds.), Cognition and fact: Materials on Ludwik Fleck (pp. 267–285). Reidel Publish Company.

Trenn, T. J. (1981). Preface. In L. Fleck, Genesis and development of a scientific fact (paperback edition). (pp. xiii–xix). The University of Chicago Press.

Vieira, M. M. M., Araújo, M. C. P. de, & Slongo, I. I. P. (2020). Formação docente e educação profissional: Análise a partir de Shulman e Fleck. Roteiro, 45, 1–28.

Zittel, C. (2012). Ludwik Fleck and the concept of style in the natural sciences. Stud. East. Eur. Thought, 64, 53–79. http://doi.org/10.1007/s11212-012-9160-8

Downloads

Publicado

2020-11-23

Como Citar

Martins, A. F. P. (2020). A Obra Aberta de Ludwik Fleck. Revista Brasileira De Pesquisa Em Educação Em Ciências, 20(u), 1197–1226. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2020u11971226

Edição

Seção

Artigos