Um relativismo totalitário?
Alfred Rosenberg, os direitos do homem e o “relativismo filosófico”
DOI:
https://doi.org/10.35699/2525-8036.2023.41470Palavras-chave:
Alfred Rosenberg, Totalitarismo, Relativismo, Philippe Lacoue-Labarthe, HumanismoResumo
O objetivo deste artigo é analisar o espaço ocupado pelos "direitos do homem" no sistema filosófico de Alfred Rosenberg. No Pós-Guerra, muitos autores - como Hannah Arendt, Hans Kelsen e Karl Popper - argumentaram que o totalitarismo político seria uma consequência do "totalitarismo filosófico", isto é, da tentativa de criar um modelo teórico capaz de abarcar todas as esferas da existência humana. O culto ocidental à razão teria conduzido a Europa ao fascismo, rejeitando o pluralismo e a diversidade cultural. Contudo, nenhum dos autores que desenvolveram essa abordagem se ocuparam de uma análise aprofundada da filosofia produzida por intelectuais nazistas, durante o Terceiro Reich. É preciso questionar como filósofos nazistas compreendiam o humanismo, o racionalismo, e a tensão entre universalismo e relativismo cultural. A leitura dos escritos de Rosenberg — o mais influente filósofo da Alemanha nazista — refuta a tese segundo a qual o totalitarismo derivaria da pretensão universalizante do pensamento ocidental. Rosenberg é relativista e antiintelectualista, e sua defesa teórica do nazismo se desenvolve a partir de uma crítica aos "direitos humanos" e, de forma geral, à busca filosófica por categorias metaempíricas que poderiam funcionar como referência para toda a humanidade.
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