O otimismo contra a utopia
Uma luta ideológica e semântica
DOI:
https://doi.org/10.35699/2525-8036.2021.35927Palavras-chave:
Liberalismo, Otimismo, Utopia, Ideologia, Imaginação política e jurídicaResumo
O objetivo deste artigo é mostrar o salto semântico entre o sentido inicial do conceito de utopia e as raízes históricas da sua conotação pejorativa. O autor Laurent Loty explica esse salto como resultado de uma outra teoria: o otimismo de Leibniz, a sua recuperação econômica por Bernard de Mandeville em prol do liberalismo, e a sua reinterpretação psicológica por Colin d’Harleville. A consequência desse otimismo é a rejeição de tudo o que não resulta da vontade de Deus: se tudo que é deve ser, então tudo o que não é, não deve ser. Daí a rejeição categórica da utopia como defesa contra o mal, seja teológico ou econômico. Loty pretende desconstruir essa criação teórica de uma opinião comum oposta à utopia. Mostrar que o que não é pode ser constitui não somente uma tarefa filosófica, mas também um dever político para quem não quer obedecer à lei atual do TINA: “There Is No Alternative” ao neoliberalismo mundial.
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