O “Contrato Racial” como fundamento para a Teoria do Estado
Ubuntu e a possibilidade de um Estado ético
DOI:
https://doi.org/10.35699/2525-8036.2025.59989Palavras-chave:
Teoria do Estado, Contrato Racial, Filosofia, Ubuntu, Estado ÉticoResumo
Neste ensaio, analiso como a teoria do contrato racial, desenvolvida pelo filósofo Charles Mills, pode ser fundamento para a Teoria do Estado. Isso porque o contrato social moderno euro-ocidental, na verdade, foi um contrato racial. A pesquisa é teórica e baseada em livros e artigos, usando aportes da teoria do contrato racial, da filosofia africana e afrodiaspórica, além de teorias políticas, filosóficas e do Estado. Argumento que as teorias políticas e jurídicas, comprometidas com a perspectiva colonial de poder e conhecimento, estruturou um conceito de Estado que excluiu os sujeitos racializados e desumanizados. Essas teorias também silenciaram esse fato como estratégia de dominação. Além disso, para que seja possível a descolonização epistêmica no campo político e jurídico, é necessário desconstruir os mitos eurocêntricos e a visão excludente do que é ser humano, que estão na base das elaborações teóricas sobre o que é o Estado. O trabalho conclui que, a partir de uma perspectiva de intersubjetivação, segundo a qual adotei como chave interpretativa para se pensar uma nova concepção de Estado, a filosofia africana e afrodiaspórica Ubuntu, e a noção de um Estado ético, ou seja, um Estado comprometido com a justiça e os direitos fundamentais.
Downloads
Referências
ANDRADE, Erico. Negritude sem identidade: Sobre as narrativas singulares das pessoas negras. São Paulo: N-1 Edições, 2023.
ASANTE, Molefi. Afrocentricidade como Crítica do Paradigma Hegemônico Ocidental: Introdução a uma Ideia. Trad. Renato Noguera, Marcelo J. D. Moraes e Aline Carmo. Ensaios Filosóficos, v. 14, 2016. Disponível em: https://ensaiosfilosoficos.com.br/Artigos/Artigo14/02_ASANTE_Ensaios_Filosoficos_Volume_XIV.pdf. Acesso em: 28 jun, 2025.
BATSIKAMA, Patrício. O Reino do Kôngo e a sua origem meridional. Luanda: Universidade Editora, 2011.
BERNAL, Martin. Black Athena: the Afroasiatic Roots of Classical Civilization, tomos I e II. News Brunswick: Rutgers University Press, 1988-1991.
BIKO, Steve. Black Consciousness and the quest for a true humanity. In: ROUX, A.P.J.; COETZEE, P.H. The African Philosophy Reader. New York: Routledge, 2003.
BIKO, Steve. Escrevo o que eu quero. Trad. Grupo Solidário São Domingos. São Paulo: Editora Ática, 1990.
BOAHEN, Albert Adu (ed.). História Geral da África - VII, África sob dominação imperial, 1880-1935. 2. ed. Brasília: UNESCO, 2010.
CASTIANO, José Paulino. Referenciais da Filosofia Africana: em busca da intersubjetivação. Moçambique: Sociedade Editorial Nadjira ltda, 2010.
COSTA, Pietro. Il ‘Pluralismo’ politico-giuridico: una mappa storico-conceituale. Quaderni Fiorentini, T. 1, n. 50, p. 29-118, 2021. Disponível em: https://www.quadernifiorentini.eu/quaderni/50/index.htm. Acesso em: 28 jun. 2025.
DIOP, Cheikh Anta. L’Afrique Noire Pré-coloniale. Études comparée des systèmes politiques et sociaux de l’Europe et de l’Afrique Noire, de l’Antiquité à la formation des États modernes. Dakar: Présence africaine, 1987.
DIOP, Cheikh Anta. Nations nègres et culture, t. I. Paris: Prèsence africaine, 1954.
DIWAN, Pietra. Raça Pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: Editora Contexto, 2007.
GRÓCIO, Hugo. O Direito da guerra e da paz, v. 1. Ijuí: Unijuí, 2005.
GRÓCIO, Hugo. O Direito da guerra e da paz, v. 2. Ijuí: Unijuí, 2005.
HAMPATÉ BÂ, A. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph (ed). História Geral da África I: Metodologia e pré-história da África. 2. ed. Brasília: UNESCO, 2010, p. 167- 212.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Filosofia da História. 2. ed. Trad. Maria Rodrigues e Hans Harden. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999.
HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. 2. ed. Trad. Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
HORTA, José Luiz Borges. Sobre o projeto jusfilosófico de Joaquim Carlos Salgado: Do Sistema de Hegel a uma Filosofia(hegeliana)-do-Estado-e-do-Direito. Astrolabio, Revista Internacional de Filosofia, n. 29, p. 1-29, 2024. Disponível em: https://revistes.ub.edu/index.php/astrolabio/article/view/e48777. Acesso em: 28 jun. 2025.
JAMES, George Granville Monah. Stonly legacy: the Greek Philosophy is a stolen Egyptian Philosophy. Drewryville: Khalifah’s Booksellers & Associates June, 2005.
KANT, Immanuel. Das Diferentes Raças Humanas. Trad. Alexandre Hahn. Kant e-Prints, Campinas, Série 2, v. 5, n. 5, p. 10 - 26, número especial, 2010. Disponível em: http://www.academia.edu/3221053/DAS_DIFERENTES_RAÇAS_HUMANAS_- _IMMANUEL_KANT. Acesso em: 28 jun. 2025.
KANT, Immanuel. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime. Campinas: Papirus, 1993.
KI ZERBO, Joseph (ed.). Coleção História Geral da África. Brasília: UNESCO, 2010.
KYMLICKA, Will. Filosofia Política Contemporânea. São Paulo: Martins, Editora, 2006.
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. Bogotá: LeBooks Editora, 2018.
LOPES, Nei; SIMAS, Luiz Antonio. Filosofias Africanas: uma introdução. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021.
MALOMALO, Bas’Ilele. Filosofia Africana do Ntu e a defesa de direitos biocósmicos. Problemata: R. Intern. Fil, v. 10, n. 2, p. 76-92, 2019.
MILLS, Charles Wade. O contrato racial. Trad. Teófilo Reis e Bruno Santos. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.
MOLINA, Luis de. De Justitia et jure opera omnia. Colónia: [s./n.], 1733.
NUNES, Diego (org.). Coleção Novos Rumos para a História do Direito, Volume 1. A Cor da História & A História da Cor. Coordenadores do volume: Philippe Oliveira de Almeida, Vanilda Honória dos Santos, Mário Davi Barbosa. Florianópolis: Habitus, 2022.
OLIVEIRA, Lorena. Comunalismo africano: o anarquismo como um modo de vida. Problemata: Rev. Intern. Fil. v. 11, n. 2, p. 94-111, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/problemata/article/view/53967/30946. Acesso em: 28 jun. 2025.
OYĚWÙMÍ, Oyèronké. A invenção das mulheres: construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
PACHECO, Ronilso. Teologia negra: o sopro antirracista do espírito. Brasília: Novos Diálogos, 2019.
PATEMAN, Carole. O Contrato Sexual. Trad. Marta Avancini. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
QUEIROZ, Ivo Pereira de. Genocídio do povo negro e bioética: uma questão antropológica. Problemata Rev. Intern. Fil. v. 10, n. 2, p. 195-211, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/problemata/article/view/49116. Acesso em: 28 jun. 2025.
RAMOSE, Mogobe. A filosofia Ubuntu e Ubuntu como uma filosofia. Trad. Arnaldo Vasconcelos. Harare: Mond Books, 1999.
RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
ROUSSEAU, Jean-Jaques. O contrato social. In: ROUSSEAU, Jean-Jaques. Oeuvres completes, tome III. Collection “Pléíade”. Paris: Gallimard, 1757.
SALGADO, Joaquim Carlos. O Estado Ético e o Estado poiético. Revista do TCE, v. 27, n. 2, p. 37-68, 1998. Disponível em: https://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:rede.virtual.bibliotecas:artigo.revista:1998;1000551153. Acesso em: 28 jun. 2025.
SALGADO, Ricardo Henrique Carvalho; SILVA, Gustavo Felipe Melo da. O Estado como conceito. Revista da Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte, n. 71, p. 531-551, 2017. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/44481?locale=pt_BR. Acesso em: 28 jun. 2025.
SALMÓN, Boris Epezúas. El pluralismo jurídico, p. 40. In: SALMÍN, Boris Epezúas; CCAMA, Juan Casazola. Pluralismo jurídico: Potencias del I Congreso Internacional 2018. Puno: Facultad de Ciencias Juridicas y Políticas de la UNAP, 2018.
SANTOS, Vanilda Honória dos. A reparação da escravidão negra no Brasil: fundamentos e propostas. Revista Eletrônica da OAB/RJ, v. 209, n. 2, p. 1-26, 2018. Disponível em: https://revistaeletronica.oabrj.org.br/wp content/uploads/2018/10/ARTIGO.A-REPARA%C3%87%C3%83O-DA ESCRAVID%C3%83O-NEGRA-NO-BRASIL.pdf. Acesso em: 05 jun. 2022.
SANTOS, Vanilda Honória dos. Apontamentos de antropologia filosófica afrodiaspórica das Congadas no Brasil. Revista Ítaca, Rio de Janeiro, n. 36, Especial Filosofia Africana, p. 7-42, 2020. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/Itaca/article/view/31776. Acesso em: 28 jun. 2025.
SANTOS, Vanilda Honória dos; ASSIS, Biatriz. B. A cultura jurídica de criminalização das religiões afro-brasileiras: a experiência de São Pedro do Uberabinha (Minas Gerais). In: NUNES, Diego (org.). Estudos em história do direito penal e da justiça criminal. 1. ed. Uberlândia: LAECC, 2020
SANTOS, Vanilda Honória dos. O conceito de intersubjetivação como categoria teórico-metodológica para as ciências jurídicas. Revista Gestão Universitária, 2020. Disponível em: http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/o-conceito-de-intersubjetivacao-da-filosofia-africana-como-categoria-teorico-metodologica-para-as-ciencias-juridicas. Acesso em: 20 jun. 2025.
SANTOS, Vanilda Honória dos. As teorias da justiça e a questão racial. In: MACHADO, Amanda Castro; GRAF, Paloma Machado; CANTARELI, Viviane Pereira de Ornellas. Narrativas Restaurativas Libertárias: ensaios sobre potências e resistências. São Paulo: Escola Superior de Advocacia – ESA OAB SP, 2021, p. 97-110.
SANTOS, Vanilda Honória dos. Curso de Introdução à Filosofia Africana, Aula 2. Youtube, 14 mai. 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bOftHgLEb00&t=2198s. Acesso em: 13 jun. 2025.
SANTOS, Vanilda Honória dos. Pluralismo Jurídico Afrodiaspórico: as Irmandades Negras e suas afrojuridicidades no Brasil (Florianópolis/SC e São Pedro do Uberabinha/MG, 1870-1917). Tese (Doutorado em Direito). Centro de Ciências Jurídicas, Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2024.
SANTOS, Vanilda Honória dos. Implicações da concepção de ser humano da filosofia afrodiaspórica para as ciências jurídicas. In: MACHADO, Adilbênia Freire; ROCHA, Aline Matos da; OLIVEIRA, Lorena Silva (org.). Filosofias Africanas: Tecidas por Vozes-Mulheres. Ourinhos: Editora Edições & Publicações, 2025, p. 101- 116.
SANTOS, Vanilda Honória dos. A reparação da escravidão: fundamentos histórico-jurídicos. Curitiba: Editora Thoth, 2025. No prelo.
SÃO BERNARDO, Augusto Sérgio dos Santos de. “Kalunga e o Direito”: A emergência de uma justiça afro-brasileira. Tese (Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento). Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018.
VANSINA, Jan. A Comparison of African Kingdoms. África, v. 32, n. 4, p. 324-335, 1962. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/africa/article/abs/comparison-of-african-kingdoms/864EB3223F2C6292AC3289CFF2185864. Acesso em: 10 jun. 2025.
VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Antropologia Filosófica I. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1991.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Vanilda Honória Santos

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
1. Os conteúdos dos trabalhos são de exclusiva responsabilidade de seu autor.
2. É permitida a reprodução total ou parcial dos trabalhos publicados na Revista, desde que citada a fonte.
3. Ao submeterem seus trabalhos à Revista os autores certificam que os mesmos são de autoria própria e inéditos (não publicados em qualquer meio digital ou impresso).
4. Os direitos autorais dos artigos publicados na Revista são do autor, com direitos de primeira publicação reservados para este periódico.
5. Para fins de divulgação, a Revista poderá replicar os trabalhos publicados nesta revista em outros meios de comunicação como, por exemplo, redes sociais (Facebook, Academia.Edu, etc).
6. A Revista é de acesso público, portanto, os autores que submetem trabalhos concordam que os mesmos são de uso gratuito.
7. Constatando qualquer ilegalidade, fraude, ou outra atitude que coloque em dúvida a lisura da publicação, em especial a prática de plágio, o trabalho estará automaticamente rejeitado.
8. Caso o trabalho já tenha sido publicado, será imediatamente retirado da base da revista, sendo proibida sua posterior citação vinculada a ela e, no número seguinte em que ocorreu a publicação, será comunicado o cancelamento da referida publicação. Em caso de deflagração do procedimento para a retratação do trabalho, os autores serão previamente informados, sendo-lhe garantido o direito à ampla defesa.
9. Os dados pessoais fornecidos pelos autores serão utilizados exclusivamente para os serviços prestados por essa publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou a terceiros.
