A pintura corporal indígena, entre a ecologia e o cosmos e a luta histórica contra o Karõ da aldeia

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Autores

  • Sandoval Amparo Universidade do Estado do Pará

DOI:

https://doi.org/10.35699/2238-2046.2025.59016

Palavras-chave:

povos indígenas, Mebengokré, pintura corporal, cosmopolítica

Resumo

Este texto propõe dimensionar a luta histórica dos Mebengokré em defesa de seu modo de vida, contra a expansão da territorialização brasileira, no Brasil Central, por meio de várias frentes de povoamento. Num primeiro momento, através de relatos pessoais dos indígenas e de referências etnológicas, procuramos situar os Mebengokré em termos de povoamento histórico nesta região, considerando ainda sua história particular em relação aos demais povos falantes de língua Jê, dos quais são signatários. Em seguida, foram apresentadas as pinturas indígenas por uma perspectiva complexa, que considera, a um só tempo, seus aspectos técnicos, terapêuticos e culturais, tudo isto, no âmbito de uma cosmopolítica que possibilita contemplar a cultura indígena como expressão cultural e artística da sociedade Mebengokré, sendo central na estratégia de produção da pessoa e constituição do modo de vida indígena, tal qual apontam os etnólogos Jê. Finalmente, demonstramos as ameaças do presente ao modo de vida indígena, que são vistas como espécies de fantasmas que assombram e/ou ameaçam a existência e a continuidade do modo de vida Mebengokré.

 

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Publicado

2025-09-13

Edição

Seção

Artigos - Seção aberta

Como Citar

A pintura corporal indígena, entre a ecologia e o cosmos e a luta histórica contra o Karõ da aldeia: pt. PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, Belo Horizonte, v. 15, n. 34, p. 36–60, 2025. DOI: 10.35699/2238-2046.2025.59016. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistapos/article/view/59016. Acesso em: 24 dez. 2025.

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