Escrever a vida, corte oblíquo

Autores

  • João Guilherme Dayrell Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.17851/2317-2096.26.1.157-175

Palavras-chave:

Clarice Lispector, Cyro dos Anjos, biografia, vida, literatura

Resumo

O presente artigo parte da constatação do filósofo Emanuele Coccia de que a biografia constitui a base cultural do Ocidente, o que implica a crença na plena coincidência entre lei e vida. A partir de um debate envolvendo a filósofa Hannah Arendt ampliaremos os alcances da supracitada paridade para evidenciar como nela se inscreve a dialética natureza e cultura e, por fim, reivindicaremos o “corte oblíquo” identificado por Silviano Santiago nas obras O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos, e Água viva, de Clarice Lispector, como possível alternativa à citada lógica. Isto pois, em ambos os textos, como mostraremos, temos questionadas as condições da biografia, do cristianismo, do humanismo e, por fim, do próprio romance, da própria literatura.

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Biografia do Autor

João Guilherme Dayrell, Universidade Federal de Minas Gerais

É doutor em Estudos Literários e Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com a tese "Osman Lins: a economia da natureza e a terra por vir", e período sanduíche na Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales sob orientação de Emanuele Coccia. Possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com a dissertação "O sensível cinemático: des-montagens em eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato". Atualmente leciona no curso de Letras da UFMG como parte do estágio pós-doutoral que realiza sob tutoria de Jacyntho Lins Brandão, pesquisando a relação dos Novos Romancistas franceses com a fenomenologia, o cinema e o primitivismo.

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Publicado

2016-07-01

Como Citar

Dayrell, J. G. (2016). Escrever a vida, corte oblíquo. Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 26(1), 157–175. https://doi.org/10.17851/2317-2096.26.1.157-175