No lugar do narrador tagarela, a crítica tagarela

sobre a dialética da explicação em Ulisses, de James Joyce

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/2317-2096.2025.55138

Palavras-chave:

Ulisses, explicação, interpretação

Resumo

O primeiro passo argumentativo deste artigo consiste em apresentar e discutir as descontinuidades narrativas que caracterizam a primeira parte de Ulisses, de James Joyce. Intimamente ligado à técnica do monólogo interior e à verossimilhança psicológica, o estilo, nesse momento, é marcado por vazios, falhas e lacunas. Por isso, o narrador atuante aqui contrasta agudamente com aquele do realismo, que, ao explicar tudo, defendemos, tagarelava. A ideia central do texto é a de que parte significativa das explicações do romance, quase que um gênero à parte, ao se propor preencher tais vazios, falhas e lacunas, reinstaura esse narrador na forma comentário. Do percurso traçado surge uma dialética da explicação: esclarecer, elucidar, desvendar são produtivos quando estão à serviço da interpretação; em sua ausência, são meros agentes de capital simbólico de um Ulisses agora rendido à indústria da (alta) cultura.

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Biografia do Autor

  • Camila Hespanhol Peruchi, Universidade Federal de Goiás (UFG) Goiânia | GO | BR

    Camila Hespanhol Peruchi é doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas, mestre em Letras pela Universidade Estadual de Maringá e graduada em Letras - Português/ Inglês pela Universidade Estadual de Maringá. Atualmente, realiza pós-doutorado na Universidade Federal de Goiás, com financiamento do CNPq, integrando o Projeto de Pesquisa Memorial Poético dos Anos de Chumbo. Seus principais temas de interesse são as articulações entre forma literária e processo social.

     

  • Fabio Akcelrud Durão, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) | Campinas | SP | BR

    Fabio Akcelrud Durão é Professor Titular do Departamento de Teoria Literária da Unicamp. Formou-se *magna cum laude* em Português/Inglês pela UFRJ, e obteve o mestrado em Teoria Literária pela UNICAMP. Seu doutorado foi feito na Duke University, onde estudou com Frank Lentricchia e Fredric Jameson. É autor de *Teoría en fragmentos: Instantáneas de vida académica* (Fondo de Cultura Económica/Editorial UNAL, 2024), *Ensinando Literatura* (com André Cechinel, Parábola, 2022), *Metodologia de pesquisa em literatura* (Parábola, 2020), *O que é crítica literária?* (Parábola/Nankin, 2016*), *Teoria (literária) americana* (Autores Associados, 2011) e *Modernism and Coherence* (Peter Lang, 2008). Coeditou, entre outros, *Modernism Group Dynamics: The Politics and Poetics of Friendship* (Cambridge Scholars Publishing, 2008); e organizou *Culture Industry Today* (Cambridge Scholars Publishing, 2010). Publicou diversos artigos no Brasil e no exterior, em periódicos como *Critique* (Paris: Minuit), *Cultural Critique*, *Luso-Brazilian Review*, *Parallax*, *The Brooklyn Rail* e *Wasafiri*. Seus interesses de pesquisa incluem a Escola de Frankfurt, o modernismo de língua inglesa e a teoria crítica brasileira. De 2014 a 2016 foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL), e, de 2016 a 2019, membro do Comitê de Assessoramento (CA) da área de Letras do CNPq.

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Publicado

2025-06-30

Edição

Seção

Dossiê: James Joyce e Virginia Woolf: Experiências, limites e redefinições do modernismo

Como Citar

Hespanhol Peruchi, C., & Akcelrud Durão, F. (2025). No lugar do narrador tagarela, a crítica tagarela: sobre a dialética da explicação em Ulisses, de James Joyce. Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 35(2), 146-160. https://doi.org/10.35699/2317-2096.2025.55138