CHAMADA ALETRIA - v. 36, n. 4 (out.-dez. 2026) Dossiê: Fronteiras do ficcional na narrativa contemporânea (2000-2025)
CHAMADA ALETRIA - v. 36, n. 4 (out.-dez. 2026)
Organizadores:
Kelvin Falcão Klein (Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro)
Ligia Gonçalves Diniz (Universidade Federal de Minas Gerais)
Luciene Almeida de Azevedo (Universidade Federal da Bahia)
Prazo para submissão: 04 de março de 2026
Fronteiras do ficcional na narrativa contemporânea (2000-2025)
Em reação à ideia de que o romance moderno “descobriu a ficção” (Gallagher, 2006, p. 337), a medievalista Julie Orlemanski (2019, p. 247) critica a confusão entre “conceito” e “experiência” de ficcionalidade, propondo uma “poética comparativista da ficção”. Nesta, define a ficção como um “fenômeno demarcatório”: ficcionais são os discursos desvinculados do compromisso com a verdade.
A definição de verdade, por sua vez, não é trans ou a-histórica. Pelo contrário, tem origem em uma comunidade interpretativa, que a estabelece a partir de parâmetros mutáveis, oriundos de linguagens tão diversas quanto a história e o senso comum, a filosofia e a doutrina religiosa, a ciência ou a eficácia performativa dos atos de fala.
A concepção de Orlemanski mantém, portanto, a distinção moderna entre ficção e mentira ou erro, mas deixa em aberto os discursos em relação aos quais a ficcionalidade é definida, possibilitando não só uma reflexão a respeito das experiências pré e extramodernas do ficcional, como, derivadamente, uma leitura da própria convenção de verdade de um determinado contingente cultural.
Considerando essas ideias, perguntamos: o que a profusão contemporânea de formas literárias que tensionam as fronteiras da verdade factual – entendida como parâmetro da ficcionalidade moderna –, nos diz a respeito tanto das possibilidades da ficção quanto do próprio regime de verdade em que vivemos?
Em outro sentido, levando a atenção à tendência de privilegiar realidades biográficas e sociais como matrizes das formas narrativas atuais, questionamos o que se perde com o relativo desinteresse quanto à narrativa de invenção.
Entre outros eixos possíveis, este dossiê acolherá perspectivas teóricas sobre o estatuto da ficcionalidade na contemporaneidade, bem como contribuição acerca de temas como:
- hibridismos entre ficção e não ficção: escritas de si, ensaio, crônica;
- a presença do “real” na literatura e nas artes;
- reconfigurações do romance e do conto;
- práticas que interrogam autoria, narração e leitura;
- diálogos entre ficção, memória e arquivo;
- regimes de verdade e de ficcionalidade;
- autoficção e autenticidade em tempos de crise da verdade.



