Sob espelhos: reflexões em torno da autoria em Budapeste, de Chico Buarque

Autores/as

  • Maria Irenilce Rodrigues Barros Universidade Federal do Tocantins
  • Leonardo Francisco Soares Universidade Federal de Uberlândia

DOI:

https://doi.org/10.17851/2317-2096.26.2.65-82

Palabras clave:

Budapeste, Chico Buarque, autoria, espelho

Resumen

Com este artigo, objetiva-se discutir a autoria, juntamente com a figura do narrador, no interior do romance Budapeste (2003), de Chico Buarque, tomando como ponto de apoio dois textos clássicos a respeito do tema: “O que é um autor” (1969), de Michel Foucault, e “A morte do autor” (1968), de Roland Barthes. Para tanto, pretende-se destacar alguns elementos da narrativa relevantes para a reflexão sobre as questões da autoria e da “autoficcionalização” do autor na narrativa contemporânea. Ainda, leva-se em conta a forma como este romance reflete sobre si mesmo, espelhando a escrita e o narrador, retratando a imagem do autor, confundindo-a e desmistificando-a. Nesse jogo especular, a tessitura narrativa bane circularmente o sujeito empírico, o autor e o narrador; também os envolve na trama, em um movimento de morte e nascimento, no desvanecimento e ressurgimento desses sujeitos. Todavia, algumas vezes não se sabe quem morre e quem surge nesse descentramento ficcional do sujeito. Essa complexa e confusa batalha da escrita convida o leitor a realizar uma apreciação crítica do romance em estudo. Assim, observa-se, também, em Budapeste, que esses sujeitos – nome próprio, autor e narrador –, de modo contundente, confundem-se, espelham-se, confluem-se, de forma a deixar transparecer que passam a ser as mesmas pessoas a contar a própria história. Do mesmo modo que, ao mesmo tempo, escapam-se, como se ninguém representassem ou tencionassem ser.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Maria Irenilce Rodrigues Barros, Universidade Federal do Tocantins

Professora da Universidade Federal do Tocantins, Campus Universitário de Miracema.

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos-PPGEL, na linha de Análise do Discurso, pela Universidade Federal de Uberlândia-MG.

Leonardo Francisco Soares, Universidade Federal de Uberlândia

Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia (ILEEL/UFU); Doutor em Letras- Estudos Literários pela Universidade de Minas Gerais (UFMG)

 

Citas

ARFUCH, Leonor. El espacio biográfico contemporáneo. In: ARFUCH, Leonor. El espacio biográfico. Buenos Aires: Fondo de Cultura Econômica, 2002.

BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.

BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. São Paulo: UNESP, 1998.

BARTHES, R. A morte do autor. In: BARTHES, R. O rumor da língua. Tradução de Mário Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 57-64.

BOOTH, W. C. A retórica da ficção. Tradução de M. T. Guerreiro. Lisboa: Arcádia, 1980.

BUARQUE, C. “Lula precisa governar para todos os brasileiros”, afirma Chico Buarque. Pão e Poesia por Vera Barbosa, 27 abr. 2005. Entrevista concedida a José Andrés Rojo para o jornal El País. Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves. Disponível em: http://dedinhasp.blog.uol.com.br/arch2005-04-01_2005-04-30.html. Acesso em: 27 set. 2015.

BUARQUE, C. A voz do dono e o dono da voz. In: WERNECK, H. Chico Buarque: letras e músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 200.

BUARQUE, C. Budapeste. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

BUARQUE, C. O tempo e o artista. Folha de S. Paulo, São Paulo, 26 dez. 2004. Entrevista. Disponível em: http://www.chicobuarque.com.br/texto/mestre.asp?pg=entrevistas/entre_fsp_261204c.htm. Acesso em: 27 set. 2015.

ECO, U. Interpretação e superinterpretação. Tradução de Monica Stahel. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

ECO, U. Sobre os espelhos. In: ECO, U. Sobre os espelhos e outros ensaios. Tradução de Beatriz Borges. São Paulo: Nova Fronteira, 1989. p. 11-37.

FAEDRICH, A. O conceito de autoficção: demarcações a partir da literatura brasileira contemporânea. Itinerários, Araraquara, n. 40, p. 45-60, jan./jun. 2015. Disponível em: http://seer.fclar.unesp.br/itinerarios/article/viewFile/8165/5547. Acesso em: 18 jun. 2016.

FARIAS, S. L. R. Budapeste: as fraturas identitárias da ficção. In: FERNANDES, R. de (Org.). Chico Buarque do Brasil: textos sobre as canções, o teatro e a ficção de um artista brasileiro. Rio de Janeiro: Garamond/Fundação Biblioteca Nacional, 2004. p. 387-408.

FIGUEIREDO, E. Autoficção feminina: a mulher nua diante do espelho. Revista Criação & Crítica, São Paulo, n. 4, p. 91-102, abr. 2010. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/article/view/46790/50551. Acesso em: 18 jun. 2016.

FOUCALT, M. A ordem do discurso. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Loyola, 2000.

FOUCAULT, M. Isto não é um cachimbo. In: MOTTA, M. B. da (Org.). Estética: literatura e pintura, música e cinema. Tradução de Inês Autran Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. p. 247-263.

FOUCAULT, M. O que é um autor? Lisboa: Vega, 1992. (Passagem, 6).

ISER, W. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Tradução de J. Kretschmer. São Paulo: Ed. 34, 1996. 2 v.

SANTOS, L. A. B.; OLIVEIRA, S. P. de. Sujeito, tempo e espaço ficcionais: introdução à Teoria da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

VIEGAS, A. C. O retorno do autor: relatos de e sobre escritores contemporâneos. In: VIEGAS, A. C.; VALLADARES, H. do C. P. (Org.). Paisagens ficcionais: perspectiva entre o eu e o outro. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007. p. 13-26.

ZAPPA, R. Para seguir minha jornada: Chico Buarque. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

Publicado

2016-10-24

Cómo citar

Barros, M. I. R., & Soares, L. F. (2016). Sob espelhos: reflexões em torno da autoria em Budapeste, de Chico Buarque. Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 26(2), 65–82. https://doi.org/10.17851/2317-2096.26.2.65-82

Número

Sección

Dossiê - Chico Buarque: Mosaicos