O mal que se repara: violência contra mulheres nos contos de Gonçalo Fernandes Trancoso
DOI:
https://doi.org/10.17851/2317-2096.27.1.211-228Palabras clave:
Gonçalo Fernandes Trancoso, Renascimento português, violência sexual, ética nobreResumen
Apesar de o primeiro livro de narrativas curtas da literatura portuguesa, os Contos e histórias de proveito e exemplo, de Gonçalo Fernandes Trancoso (Lisboa, 1575), proporcionar histórias leves, por vezes divertidas, para servirem de exemplo moral aos leitores católicos, dois contos saltam à vista pela violência explícita contra mulheres: as narrativas I 3 e III 6 (conforme a edição moderna, que inclui os contos proibidos pela Inquisição em 1585), em que duas jovens pobres se veem raptadas e violentadas por homens nobres. Partindo de uma leitura histórica, buscando evidenciar a mulher não exatamente como sujeito da violência, mas como objeto de um prejuízo familiar, na medida em que representava, à época do Renascimento, um patrimônio ético da própria família, este artigo procura evidenciar que, mais do que histórias sobre violência contra mulheres, os contos selecionados representam narrativas sobre como a nobreza é capaz de restituir seus valores e mostrar que, por trás da aparência do mal e da brutalidade, existe a essência do que é ser nobre.
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