A carta da escravizada Esperança Garcia, escrita por ela mesma, e a forma-ção do cânon literário afro-brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.35699/2317-2096.2022.35457Palavras-chave:
Esperança Garcia, carta, narrativa dos escravizados, Brasil, Estados UnidosResumo
A carta de Esperança Garcia, de 6 de setembro de 1770, foi endereçada ao Governador da Capitania de São José do Piauí (MOTT, 1985; 2010), Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, uma “inusitada reclamação” (MOURA, 2004) por se tratar de uma escravizada que se dirige à principal autoridade do Piauí colonial setecentista. A epístola, resguardada as peculiaridades, é um marco parecido com a Carta de Pero Vaz de Caminha (1500), missiva da chegada do branco ao Brasil. Significa afirmar que a petição de Esperança é o registro mais antigo da escravidão no país, de autoria de uma mulher negra, brasileira e cativa. Isso confere a essa narrativa o status da escritura de uma gênese da formação do cânon da literatura afro-brasileiro. Estabeleceremos também relações da carta de Esperança com o livro Incidentes da vida de uma escrava contados por ela mesma (1861), de Harriet A. Jacobs, escritora estadunidense.
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