O duplo como paródia em O Ano do Dilúvio
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.23.1.275-285Palavras-chave:
paródia, metaficção, duploResumo
O Ano do Dilúvio, da canadense Margaret Atwood, apresenta uma distopia em que a humanidade foi dizimada por uma praga sem nome e à qual poucos sobreviveram. Dentre eles estão remanescentes do grupo religioso Jardineiros de Deus, cujo líder, Adam One, já tinha previsto que um “Dilúvio Seco” atingiria a humanidade. Pelos os sermões de Adam One antes e depois da catástrofe, assim como pela narrativa de outros personagens, o leitor é levado a um duplo mundo distópico: aquele do capitalismo exacerbado antes da catástrofe final e aquele com a humanidade quase dizimada. Meu foco neste trabalho é analisar como a narrativa de Adam One se constitui como paródia dos sermões cristãos. Conceituando paródia a partir de Linda Hutcheon, que vê em toda paródia a presença de um discurso duplo, pretendo discutir como a quebra de expectativa em relação ao sermão gera um paradoxo metaficcional. Através desse paradoxo, o texto chama atenção sobre sua própria condição como texto, criando um efeito estético que rompe com a narrativa tradicional ao mesmo tempo em que a endossa. Esse efeito de duplo textual, presente em outras obras da autora, em O Ano do Dilúvio é utilizado para questionar a suposta naturalidade dos discursos da religião e da ciência, enfatizando-se o modo como nossa realidade, assim como a ficção, é construída.
Downloads
Referências
ATWOOD, Margaret. The Year of the Flood. New York, Random House, 2009.
BERGTHALLER, Hannes. Housebreaking the Human Animal: Humanism and the Problem of Sustainability in Margaret Atwood’s Oryx and Crake and The Year of the Flood. English Studies, London, v. 91, n. 7, 2010, p. 728-743.
BOUSON, Brooks. “We’re using up the Earth. It’s almost gone”: A Return to the Post-Apocalyptic Future in Margaret Atwood’s The Year of the Flood. The Journal of Commonwealth Literature, v. 46, n. 9, 2011, p. 9-26.
BOYD, Brian. On the Origins of Stories: evolution, cognition, and fiction. Cambridge, First Harvard University Press, 2010.
HOOGHEEM, Andrew. Secular Apocalypses: Darwian Criticism and Atwoodian Floods. Mosaic, v. 45, n. 2, 2012, p. 55-71.
HUTCHEON, Linda. The Canadian Postmodern: A Study of Contemporary English-Canadian Fiction. Toronto, Oxford University Press, 1988.
HUTCHEON, Linda. Narcissistic Metafiction: The Metafictional Paradox. New York, Methuen, 1984.
HUTCHEON, Linda. A Theory of Parody: The Teachings of Twentieth-Century Art Forms. New York, Methuen, 1985.
LADUBOVA, Katarina. Power, Pain and Manipulation in Margaret Atwood’s Oryx and Crake and The Year of the Flood. Brno Studies in English, v. 36, n. 1, 2010, p. 135-146.
MOYLAN, Tom. Scraps of the Untainted Sky: Science Fiction, Utopia, Dystopia. Oxford, Westview Press, 2000.
WAUGH, Patricia. Metafiction: The Theory and Practice of Self-Conscious Fiction. London, Routledge, 1984.



