Zoografia ficcional em Água viva, de Clarice Lispector

Autores

  • Katya Queiroz Alencar

Palavras-chave:

literatura pensante. Bestiário. Água viva.

Resumo

O objetivo deste trabalho é discutir em Água viva (1973),  de Clarice Lispector, escritora de ascendência judaica, o exercício literário como chamado  pensante de uma   “sacranimalidade” ou potencial primitivo,  especialmente o animálico,  fundante no próprio texto e inventariado nessa ficção a partir  do estranho familiar em busca da “coisa”, do “X”; categorias que a narradora  deixa em devir  para especular a alteridade do ser. Para tanto, toma-se como principais referências pressupostos sobre o bestiário advindos de transcontextualizações do imaginário da tradição judaica, além  de subsídios  filosófico-literários e reflexões  filosóficas sobre o inumano  e a literatura pensante clariciana.  A hipótese desse estudo é que Lispector assim como o judeu, em perspectiva secularizada, elabora em Água viva uma literatura pensante e de autoconhecimento, especialmente via uma zoografia ficcional, procurando a origem ou um tipo de divindade primitiva da letra que diz sobre os viventes e, ao mesmo tempo, problematiza nesse percurso os limites entre o humano e o não humano. Dessa forma, a narradora de Água viva toma conta do mundo, fazendo, além do relatório dos bichos, o da “coisa” em busca de si mesma pelo Outro ou Outra em sua radical diferença.

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Referências

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Publicado

2022-12-30

Como Citar

Alencar, K. Q. (2022). Zoografia ficcional em Água viva, de Clarice Lispector. Arquivo Maaravi: Revista Digital De Estudos Judaicos Da UFMG, 16(31), 49–64. Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/maaravi/article/view/41637