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Arquivo MaaraviAbstract
Desde a Bíblia, literal ou simbolicamente, histórias de crimes, pecados e monstruosidades permeiam não só a tradição judaica, mas também de toda a humanidade. Essas histórias surgem com o homem e os acompanham através dos tempos como uma força sinistra. Porém, em meio a essas histórias, produziram-se leis, tratados, literatura e arte que, em contraponto, elaboraram o mal neles contido, dando-lhes um desdobramento crítico ou artístico. Do Éden ao divã, esses relatos povoam nossa imaginação e constituem mitos fundacionais não só religiosos, mas, principalmente, criadores de livros, filmes e músicas que se beneficiaram, sobremaneira, do que o crime, o pecado e a monstruosidade puderam, e podem, produzir de medo, horror e glória. No contexto da tradição judaica, que não é só bíblica ou talmúdica, originou-se um imaginário em que situações-limite transformam crimes em pecados, e estes em monstruosidades. No cadinho do artista, do escritor, do psicanalista ou do religioso, interpretações, outras narrativas, são pungentemente delineadas. A queda do homem e suas consequências; o assassinato de Abel por Caim e a fundação da primeira cidade; a inveja, a escravidão e o incesto; toda sorte de crimes sexuais e barbáries tiveram, na Escritura, o estatuto de pecado. Este, por sua vez, adquiriu de forma extravagante, em muitas ocasiões, conotações de monstruosidades. O assassinato das crianças pelo enlouquecido faraó do Egito ou a premeditação e a cegueira de Davi, em suas ações, diante do desejo por Betsabá são exemplares dessa interrelação entre crime, pecado e monstruosidade. Profetas, reis, salmistas, e, mais tarde, escritores e artistas, conceberam relatos cheios de paixão, ódio, amor e, por que não dizer, humanidade. Poemas de dor, romances de paixão, filmes de horror e medo fazem retumbar, em nossas consciências, muito do que foi cunhado a partir dessas narrativas fundacionais. Evidentemente, não é só a Bíblia e o Talmude que dão suporte à tradição judaica. Neste número, a Arquivo Maaravi apresenta leituras críticas do teatro ídish, dos monstros judaicos de Borges, da figura do Diabo no contexto da Patrística e outros excelentes artigos que perfazem uma concepção viva, contemporânea, da tradição judaica, apontando, sempre, para sua constante reescritura.
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