A literatura marrana de Clarice Lispector
a vida devora a vida
DOI:
https://doi.org/10.35699/1982-3053.2023.46470Palavras-chave:
Clarice Lispector, Literatura marrana, ComidaResumo
O objetivo deste artigo é, a partir de fragmentos de textos literários de Clarice Lispector, demonstrar uma escrita de dicção marrana. Para tanto, usa-se como referências teórico-críticas as temáticas sobre Cabala, alimentos e ato de comer, abordadas por Brillat Savarin, Nilton Bonder. E, para além da semântica fisiológica, situá-las analogicamente às esferas da linguagem e da criação estético-literária a partir de Massimo Montanari, Maria José de Queiroz, Roland Barthes, Jean Baudrillard entre outros, bem como de discussões biográfico-críticas sobre a escritora e obras. A hipótese é que Lispector, cuja ascendência é judaica, absorve em sua literatura essa e outras culturas, transcontextualizando-as em uma escrita contaminada por intertextos e interdiscursos advindos de inúmeras fontes. Tal qual os cristãos-novos, infiéis às leis de Moisés, Lispector devora transgressivamente o instante real, bem como textos diversos, (des)lendo-os e, os recicla, produzindo uma literatura impura de gosto e em (ex)tradição, mas sem débito algum às fontes de origem. Em sua arte ela leva a linguagem em seu limite semântico tal qual deglute um fruto proibido, simulando uma performance autofágica de escrita que degrada e recicla sentidos, inclusive o do próprio ser, tudo cozido com temperos estéticos, culturais e místico-religiosos.
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