Bolsonaro e o jornalismo em conflito midiático
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.29.4.2485-2508Palavras-chave:
Jair Bolsonaro, mídia, análise do discurso, retórica, argumentaçãoResumo
Desde sua posse como Presidente da República do Brasil, em 2018, presenciamos recorrentes ataques recíprocos entre Jair Messias Bolsonaro e algumas instituições midiáticas. Ambos os protagonistas se afrontam em interações digitais muitas vezes exacerbadas. Nesse ínterim, eles acabam retroalimentando a imagem de si e do outro, valendo-se de recursos argumentativos carregados de pathemias, na tentativa de persuadir o público com suas opiniões, suas verdades e seus posicionamentos ideológicos distintos. Por um lado, uma parte do jornalismo noticia a insensatez dos discursos e o despautério das ações do presidente. Por outro, Bolsonaro defende-se acusando a mídia de tendenciosa e mentirosa. Essa querela leva Bolsonaro, a mídia e o público a se envolver, a questionar os discursos uns dos outros e a (se) interpelar em suas crenças e paixões e, por espelhamento, a forjar sua própria identidade coletiva. Considerando esse cenário conflituoso e polarizado, propomos, com o instrumental teórico fornecido pela Análise do Discurso, pela Retórica e pela Argumentação, uma reflexão a respeito da permanente reconstrução das identidades das instâncias enunciativas e o uso estratégico das emoções enquanto estrutura retórico-argumentativa para tocar os seus respectivos públicos. Diante do vasto material disponível, selecionamos como corpus quatro matérias jornalísticas online e sete postagens presidenciais em redes sociais publicadas nos últimos dois anos (2019-2020). Ao final deste artigo, teremos demonstrado que os protagonistas se valem do discurso argumentativo para, cada um à sua maneira, forjar seus éthé, justificar seus posicionamentos político-ideológicos, confrontar o outro e persuadir o público para as suas causas.