Das Execuções Sumárias Cometidas Pelos Agentes Públicos
Um Estudo da Violência Policial e Seletividade no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.35699/2525-8036.2018.5118Palavras-chave:
Racismo, Seletividade do sistema penal, Autos de resistênciaResumo
A presente pesquisa tem por escopo analisar o perfil preferencial das vítimas de execuções sumárias cometidas por agentes do Estado, as razões dessa seletividade, por quais meios essa violência se efetiva, qual a legislação que dá aporte a tal comportamento e a verificação se existe ou não políticas públicas ou legislação para prevenir essa violência. Por meio da leitura de livros, teses, artigos e análise de dados, foi possível constatar que a polícia brasileira age de modo seletivo cotidianamente, gerando uma discrepância entre o número de negros e brancos vítimas da atuação policial. Essa seletividade é historicamente construída pelo Estado brasileiro, a partir da fabricação da imagem do negro como delinquente, enraizando nas instituições de Estado um racismo institucional. Esse racismo institucional e o estereótipo do negro como delinquente acabam por nortear a atuação das polícias, que amparado pelos autos de resistência, instituto que encontra o seu fundamento legal no artigo 292 do Código de Processo Penal. Embora os autos de resistência não sejam a causa da violência policial, são ferramentas importantes para que o Estado seja isentado de responsabilidade pelas mortes cometidas por seus agentes, uma vez que culpabilizam a vítima e revestem de legalidade a atuação policial. Por isso, sua supressão, por meio de um dos dois projetos de lei que aguardam votação na câmara dos deputados (no 4.471/2012 e no 5.124/2016) é emergente, de modo a mitigar o número de pessoas mortas pelas polícias e para que haja responsabilização do Estado e seus agentes.
Downloads
Referências
ADORNO, Sérgio. Discriminação racial e justiça criminal em São Paulo. In: Novos estudos CEBRAP. São Paulo: Novembro, n. 43, 1995.
ANISTIA INTERNACIONAL. Você matou meu filho. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em <https://anistia.org.br/wp-content/uploads/2015/07/Voce-matou-meu-filho_Anistia-Internacional-2015.pdf>. Acesso em: 21dez. 2016.
ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio. 1948. Disponível em <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/genocidio/conv48.htm>. Acesso em: 22 dez. 2016.
ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Doc. A/HRC/31/57/Add.4:Report of the special rappourter on torture and other cruel, inhuman or degrading treatment or punishment on his mission to Brazil. 2016. Disponível em <http://ap.ohchr.org/documents/dpage_e.aspx?si=A/HRC/31/57/Add.4>. Acesso em: 21 dez. 2016.
BARROS, Geová da Silva. Filtragem racial:A cor na seleção do suspeito. Revista brasileira de segurança pública, ano 2, n. 3, p. 134-155, jul./ago. 2008.
BRASIL. Código de processo penal. Decreto-Lei nº 3.689 de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 20 dez. 2016.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 05 jan. 2017.
BRASIL. Mensagem nº 326 de 2016, de iniciativa do poder executivo. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1467833&filename=MSC+326/2016+%3D%3E+PL+5124/2016>. Acesso em: 21 dez. 2016.
BRASIL. Projeto de lei da câmara nº 4.471 de 2012, de iniciativa do deputado federal Paulo Teixeira. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=D3026047D5267AE116114E6BB836223222C5C6.proposicoesWebExterno1?codteor=1027001&filename=PL+4471/2012>. Acesso em: 21 dez. 2016.
BRASIL. Projeto de lei da câmara nº 5.124 de 2016, de iniciativa do poder executivo. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1453503&filename=PL+5124/2016>. Acesso em: 21 dez. 2016.
BRASIL. Resolução Conjunta nº 2, de 13 de outubro de 2015. Dispõe sobre os procedimentos internos a serem adotados pelas polícias judiciárias em face de ocorrência sem que haja resultado lesão corporal ou morte decorrentes de oposição à intervenção policial. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 jan. 2016. Seção I. Disponível em <http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jspdata=04/01/2016&jornal=1&pagina=8&totalArquivos=40>. Acesso em: 22 dez. 2016.
CAMPOS, Ricardo Ribeiro. O genocídio e a sua punição pelos tribunais internacionais. In: Revista de Informação Legislativa, v. 178, p. 91-103, 2008.
ESCRITÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIME. Global study on homicide. Vienna, 2013. Disponível em <http://www.unodc.org/documents/gsh/pdfs/2014_GLOBAL_HOMICIDE_BOOK_web.pdf>. Acesso em: 19 dez. 2016.
FERNANDES, Florestan. A Integração do Negro na Sociedade de Classes. 5ª ed. São Paulo: Editora Globo,2008.
FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Corpo negro caído no chão:O sistema penal e o projeto genocida do Estado brasileiro. 2006. Dissertação (mestrado emdireito) -Universidade de Brasília. Disponível em <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/5117/1/2006_AnaLuizaPinheiroFlauzina.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2016.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário brasileiro de segurança pública 2016. São Paulo, 2016. Disponível em <http://www.forumseguranca.org.br/produtos/anuario-brasileiro-de-seguranca-publica/10o-anuario-brasileiro-de-seguranca-publica>. Acesso em: 21 dez. 2016.
HUMAN RIGHTS WATCH. Lethal force–Police violence and public security in Rio de Janeiro and São Paulo. New York, 2009. Disponível em <https://www.hrw.org/sites/default/files/reports/brazil1209webwcover.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2016.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. A aplicação de penas e medidas alternativas. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em <http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/150325_relatorio_aplicacao_penas.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2016.
MISSE, Michel. Autos de resistência:Uma análise dos homicídios cometidos por policiais na cidade do Rio de Janeiro (2001 -2011). 2011. Pesquisa do Núcleo de estudos da cidadania, conflito e violência urbana da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://www.pm.es.gov.br/download/policiainterativa/PesquisaAutoResistencia.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2016.
OSORIO, Rafael Guerreiro.O sistema classificatório de “cor ou raça” do IBGE. Brasília, 2003. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_0996.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2017.
SANTOS, Tiago Vinicius André dos.Racismo institucional e violação de direitos humanos no sistema da segurança pública: um estudo a partir do Estatuto da Igualdade Racial. 2012. Dissertação (mestrado em diretos humanos) -Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2012. Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2140/tde-16052013-133222/pt-br.php>. Acesso em: 22 dez. 2016.
SENADO FEDERAL. Relatório final da comissão parlamentar de inquérito do assassinato de jovens. 2016. Disponível em <http://www12.senado.leg.br/noticias/arquivos/2016/06/08/veja-a-integra-do-relatorio-da-cpi-do-assassinato-de-jovens>. Acesso em: 21 dez. 2016.
SINHORETTO, Jacqueline; SILVESTRE, Giane; SCHLITTLER, Maria Carolina. Desigualdade racial e segurança pública em São Paulo:Letalidade policial e prisões em flagrante. Departamento de Sociologia da Universidade de São Carlos. Disponível em: <http://www.ufscar.br/gevac/wp-content/uploads/Sum%C3%A1rio-Executivo_FINAL_01.04.2014.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2016.
SOUZA, Taiguara Libano Soares. Constituição, segurança pública e estado de exceção permanente: A biopolítica dos autos de resistência. 2010. Dissertação (mestrado em direito) –Departamento de direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2010. Disponível em <http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=18771@1>. Acesso em: 22 dez. 2016.
ZAFFARONI, Eugênio Raul, BATISTA, Nilo, ALAGIA, Alejandro, SLOKAR, Alejandro. Direito Penal Brasileiro:primeiro volume -Teoria Geral do Direito Penal, 2ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas:A perda de legitimidade do sistema penal. 5ª ed. Tradução por Vânia Romano Pedrosa e Amir Lopez da Conceição. Rio de Janeiro: Revan, 2001
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2018 Vinícius Rocha Moço
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
1. Os conteúdos dos trabalhos são de exclusiva responsabilidade de seu autor.
2. É permitida a reprodução total ou parcial dos trabalhos publicados na Revista, desde que citada a fonte.
3. Ao submeterem seus trabalhos à Revista os autores certificam que os mesmos são de autoria própria e inéditos (não publicados em qualquer meio digital ou impresso).
4. Os direitos autorais dos artigos publicados na Revista são do autor, com direitos de primeira publicação reservados para este periódico.
5. Para fins de divulgação, a Revista poderá replicar os trabalhos publicados nesta revista em outros meios de comunicação como, por exemplo, redes sociais (Facebook, Academia.Edu, etc).
6. A Revista é de acesso público, portanto, os autores que submetem trabalhos concordam que os mesmos são de uso gratuito.
7. Constatando qualquer ilegalidade, fraude, ou outra atitude que coloque em dúvida a lisura da publicação, em especial a prática de plágio, o trabalho estará automaticamente rejeitado.
8. Caso o trabalho já tenha sido publicado, será imediatamente retirado da base da revista, sendo proibida sua posterior citação vinculada a ela e, no número seguinte em que ocorreu a publicação, será comunicado o cancelamento da referida publicação. Em caso de deflagração do procedimento para a retratação do trabalho, os autores serão previamente informados, sendo-lhe garantido o direito à ampla defesa.
9. Os dados pessoais fornecidos pelos autores serão utilizados exclusivamente para os serviços prestados por essa publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou a terceiros.