Crise de representação política no Brasil

fisiologismo político e os direitos sociais - um ciclo vicioso

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/2525-8036.2025.54597

Palavras-chave:

Direitos Sociais, Democracia, Fisiologismo Político, Direitos Políticos, Crise Representativa

Resumo

Este trabalho explora como a inefetividade dos direitos sociais no Brasil perpetuam o fisiologismo político, e vice-versa, criando um ciclo vicioso. No contexto em que eleitores dependem de benefícios imediatos, por não terem garantido um patamar mínimo de concretização dos direitos sociais, o seu voto para o Legislativo não reflete necessariamente suas preferências político-ideológicas, não havendo correspondência entre as convicções do eleitor e do político eleito. Na esfera da atuação legislativa, políticos fisiológicos não se preocupam nem mesmo com os próprios ideais e determinam seus votos por conveniência política. Isso é observado principalmente na negociação entre Legislativo e Executivo envolvendo emendas orçamentárias, na qual o parlamentar se aproveita do controle orçamentário para garantir apoio eleitoral através de práticas de pork barrel, e oferece em troca apoio ao governo. Assim, políticas fisiológicas se tornam um instrumento para manutenção do poder, desviando o foco dos políticos, que deveriam focalizar mais tempo, recursos e esforços na elaboração de políticas públicas que poderiam efetivar os direitos sociais. A análise demonstra que a relação de dependência entre direitos sociais e o exercício qualitativo dos direitos políticos é central para entender o fortalecimento do clientelismo, que, por sua vez, distorce a função legislativa, perpetua desigualdades socioeconômicas e enfraquece a democracia, ao alargar o distanciamento entre o povo enquanto ente social e o povo enquanto entidade institucional.

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Biografia do Autor

  • Igor Piedade, Universidade Federal de Minas Gerais

    Graduando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil. Monitor da disciplina Teoria Geral do Direito na Faculdade de Direito. Estagiário na 2ª Relatoria da 2ª Turma Recursal do Tribunal Regional Federal da 6ª Região. ORCID: https://orcid.org/0009-0001-1835-1998. Contato: igor.araujo4002@gmail.com.

  • Maria Eduarda Gonçalves Teixeira da Costa, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

    Graduanda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil. Estagiária na Advocacia-Geral da União - 6ª Região. ORCID: https://orcid.org/0009-0004-1891-6241. Contato: dudatcosta33@gmail.com. 

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Publicado

12-06-2025

Como Citar

PIEDADE, Igor; COSTA, Maria Eduarda Gonçalves Teixeira da. Crise de representação política no Brasil: fisiologismo político e os direitos sociais - um ciclo vicioso. Revista de Ciências do Estado, Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 1–27, 2025. DOI: 10.35699/2525-8036.2025.54597. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revice/article/view/e54597. Acesso em: 15 jul. 2025.

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