A ideologia do encarceramento e o preconceito punitivista

sintomas do autoritarismo brasileiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/2525-8036.2025.61437

Palavras-chave:

Autoritarismo, Punitivismo, Preconceito

Resumo

O modelo de punição estabelecido no Ocidente foi uma resposta às novas formas de criminalidade suscitadas pelos modernos paradigmas de produção, de propriedade e de racionalidade. No Brasil, cujo processo civilizatório se deu pela máxima violência e dominação da natureza, nas formas do controle e cerceamento de populações cruelmente exploradas para o trabalho, a importação dos moldes do sistema penal do capitalismo europeu foi historicamente determinada. Este trabalho discute a contradição entre um Estado nacional dito democrático e de direitos e suas formas punitivas e repressivas de funcionamento, incidentes em tendências autoritárias de grupos expressivos que clamam por mais punição e pela pena de morte. Recorremos ao referencial da teoria crítica da sociedade, especialmente de Adorno e Horkheimer, ancorados na psicanálise freudiana, de modo a compreender as dinâmicas por meio das quais o punitivismo se engendra nas massas e mobiliza os anseios mais agressivos e regressivos da economia pulsional dos sujeitos, favorecendo movimentos organizados em favor de demandas autoritárias do mundo administrado. Trata-se de uma pesquisa teórico-reflexiva, em uma articulação exploratória conceitual da literatura, juntamente às estatísticas do panorama brasileiro de políticas penais e da opinião pública. Defende-se que, diante dos mecanismos da estereotipia e do preconceito, insuflados pela mídia policialesca, os tabus em torno da ideia generalista de “criminoso” impedem novas relações com este objeto, o que alimenta a paranóia, a moralidade irreflexiva e a destrutividade de uma população socializada para os fins da dominação e da adaptação a uma realidade instável, calcada na exasperação de seu desamparo.

 

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Biografia do Autor

  • Emerson Batista Silva Oliveira, Universidade Federal de Uberlândia

    Graduando em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Brasil. Atualmente é pesquisador de iniciação científica, com fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Brasil, trabalhando com as temáticas do autoritarismo, preconceito, punitivismo e ressocialização na perspectiva da Psicanálise e da Teoria Crítica. É membro do Grupo de Estudos e Pesquisa "Teoria Crítica e Filosofia Social", vinculado ao Instituto de Filosofia da UFU (IFILO), Brasil, integrando a linha de pesquisa "Teoria Crítica e Psicanálise". ORCID: https://orcid.org/0009-0000-0732-8226. Contato: arquivoebso@gmail.com. 

  • Ana Paula de Ávila Gomide, Universidade Federal de Uberlândia

    Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente é Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Brasil, e colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFU, Brasil, na linha de pesquisa "Psicanálise e Cultura". É coordenadora do Grupo de Pesquisa e Estudos "Teoria Crítica e Filosofia Social" do Instituto de Filosofia da UFU, Brasil, e coordenadora do Núcleo de Pesquisa "Psicanálise, Cultura e Política" do IP-UFU, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6042-3572. Contato: anapag2@gmail.com

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Publicado

24-12-2025

Como Citar

OLIVEIRA, Emerson Batista Silva; GOMIDE, Ana Paula de Ávila. A ideologia do encarceramento e o preconceito punitivista: sintomas do autoritarismo brasileiro. Revista de Ciências do Estado, Belo Horizonte, v. 10, n. 2, p. 1–24, 2025. DOI: 10.35699/2525-8036.2025.61437. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revice/article/view/e61437. Acesso em: 25 dez. 2025.