Reflexões sobre a História do Estado para o Cientista do Estado

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/2525-8036.2025.61823

Palavras-chave:

História do Estado, Comunidade Política, Ciências do Estado, Anacronismo, Eurocentrismo

Resumo

A reflexão inicial deste artigo discute a possibilidade de elaboração de uma História do Estado, tendo em vista as múltiplas formas histórico-políticas dos agrupamentos humanos e a formação crítica do Cientista do Estado. A estrutura organizacional das comunidades humanas é comumente denominada Estado na literatura acadêmica e no falar corrente, fato que evidencia que as conceituações de Estado são caracterizadas por sua plasticidade, moldadas por contingências políticas e culturais, amplamente variáveis geográfica e cronologicamente. Trata-se de palavra polissêmica, que se refere a distintas realidades de acordo com o contexto discursivo. Embora reconheça-se que Nicolau Maquiavel tenha sido o primeiro a empregar sistematicamente o vocábulo para designar a realidade política de seu tempo, realizamos percurso a partir da História dos Conceitos de Koselleck e criticamos abordagens reducionistas que restringem a história do Estado apenas ao período posterior ao século XVI e ao modelo europeu. Para tanto, propomos a nomenclatura genérica comunidade política como forma de abarcar diferentes tipos de organizações sociais e evidenciamos que, ao adotá-la, evitamos as armadilhas do anacronismo e do eurocentrismo. Por outro lado, a história é história de algo, e um mínimo denominador comum é proposto de modo a servir de moldura essencial do discurso histórico. Este fio condutor é estabelecido a partir das necessidades de se compreender as especificidades de cada grupo dentro do contexto abstrato que caracteriza as sociedades humanas, ou seja, seus padrões gerais de cooperação e trabalho coletivo.  O texto explora a dimensão racional e teleológica da ação humana, contrastando-a com comportamentos puramente instintivos de outros animais. A criação de ferramentas e a organização social são apresentadas como extensões da capacidade racional. Desta forma, nossa tese central é a de que uma História Geral do Estado é possível enquanto análise da historicidade das formas humanas de cooperação e trabalho, e que a realidade política não se presta a conceitualismos abstratos, mas que encontra sua verdade e sua significação na manifestação concreta da necessidade humana abstrata da formação de estruturas organizacionais de trabalho coletivo. Este reposicionamento da história é fundamental para que o cientista do Estado pense seu papel e seja capaz de operar com maior autonomia científica e intelectual e permaneça atento às necessidades específicas de sua realidade social.

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Biografia do Autor

  • Roberto Vasconcelos Novaes, Universidade Federal de Minas Gerais

    Bacharel, mestre e doutor em Filosofia do Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil. Atualmente, atua como Professor Adjunto na mesma instituição, onde também exerce a função de Coordenador do Curso de Ciências do Estado e de Professor Permanente do Programa de Pós-graduação em Direito (PPGD/UFMG). Também é líder do POLITEC (Núcleo de Estudos em Política, Desenvolvimento Tecnológico e Soberania Digital). Sua trajetória acadêmica e profissional articula pesquisas em teoria jurídico-filosófica com extensa experiência prática no desenvolvimento e implementação de sistemas de gestão, bancos de dados e ferramentas de análise de informação. Seus interesses de pesquisa situam-se na intersecção entre Direito, Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Teoria do Estado, abordando desafios contemporâneos na interface entre tecnologia, desenvolvimento econômico, soberania nacional e ordenamento jurídico. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7849-0113. Contato: rvnovaes@gmail.com.

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Publicado

20-12-2025

Como Citar

NOVAES, Roberto Vasconcelos. Reflexões sobre a História do Estado para o Cientista do Estado. Revista de Ciências do Estado, Belo Horizonte, v. 10, n. 2, p. 1–38, 2025. DOI: 10.35699/2525-8036.2025.61823. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revice/article/view/e61823. Acesso em: 21 dez. 2025.

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