O Estado de Coisas Inconstitucional como estratégia de diálogo institucional no julgamento da ADPF 347 MC/DF pelo Supremo Tribunal Federal

Autores

  • Martin Magnus Petiz Universidade Federal do Rio Grande do Sul

DOI:

https://doi.org/10.35699/2525-8036.2021.26989

Palavras-chave:

ADPF 347 MC, Jurisdição constitucional, Separação de poderes, Estado de Coisas Inconstitucional, Diálogo institucional

Resumo

O trabalho analisa a capacidade do Estado de Coisas Inconstitucional (ECI) de servir como estratégia de diálogo institucional no Supremo Tribunal Federal em julgamentos de litígios em que é necessário mobilizar diversos atores para se alcançar um objetivo constitucional. Para tanto, o trabalho possui o aspecto normativo de desenvolver o diálogo institucional como modelo de separação de poderes, estrutura na qual os poderes interagem entre si na busca pelo melhor sentido constitucional, o que teria um potencial epistêmico de suprir omissões inconstitucionais. Num segundo momento, será apresentado o ECI como técnica decisória, mediante revisão bibliográfica e análise jurisprudencial qualitativa de julgados paradigmáticos da Corte Constitucional Colombiana, procurando-se apresentar argumentos analíticos sobre as possibilidades e limites do instituto dentro da estrutura de separação de poderes apresentada, para, então, analisar como STF procedeu na ADPF 347 MC. O trabalho conclui que a aplicação ideal do ECI, com maior efetividade em um sentido tanto material quanto simbólico, se dá por meio de uma decisão que envolva o seu rastreamento pelo Tribunal, com a participação de atores sociais e políticos na formulação das políticas públicas, o que não foi efetivado até o momento na ADPF 347, demandando que o Supremo revisite logo o tema em julgamento de mérito.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Martin Magnus Petiz, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Graduando do 9º semestre em Ciências Jurídicas e Sociais - Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - URRGS. Bolsista de iniciação científica PROBIC - FAPERGS UFRGS no Projeto de Pesquisa "Por que uma sociologia histórico-constitucional para a América Latina?", sob orientação da Profa. Dra. Roberta Camineiro Baggio. Estagiário no Escritório de Advocacia Paese, Fereira & Advogados Associados.

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4955-3306

Referências

ARIZA, Libardo José. The economic and social rights of prisoners and constitutional court intervention in the penitentiary system in Colombia. In: MALDONADO, Daniel Bonilla (Eds.). Constitutionalism of the Global South: the activist tribunals of India, South Africa, and Colombia. Cambridge University Press: Cambridge, 2013.

AUGUSTO, Otávio. Cruz Vermelha critica combate à pandemia no sistema prisional do país. Metrópoles, 2021. Disponível em: <https://www.metropoles.com/brasil/cruz-vermelha-critica-combate-a-pandemia-no-sistema-prisional-do-pais>, acesso em 24 de mar. de 2021.

AVRITZER, Leonardo. O novo constitucionalismo latino-americano: uma abordagem política. In: AVRITZER, Leonardo et al (Org.). O constitucionalismo democrático latino-americano em debate: soberania, separação de poderes e sistema de direitos. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

BARROSO, Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito (o triunfo tardio do Direito Constitucional no Brasil). THEMIS – Revista da Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará, v. 4, n. 2, jul./dez.2006, p. 13-100.

BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 6ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012.

BICKEL, Alexander. The least dangerous branch: The Supreme Court at the bar of politics. 2nd edition. Binghamton: Bobbs-Merrill Company Inc., 1986.

BRASIL. Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN, dezembro/2016. Disponível em: <http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen>, acesso em 24 de mar. de 2020.

BRASIL. Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN, dezembro/2017. Disponível em: <http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen>, acesso em 24 de mar. de 2020.

BRASIL. Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN, dezembro/2019. Disponível em: <http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen>, acesso em 24 de mar. de 2020.

BRASIL. Lei n. 13.257/16, de 8 de março de 2016. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm>, acesso em 24 de mar. de 2021.

BRASIL. Lei n. 13.769/18, de 19 de dezembro de 2018. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13769.htm>, acesso em 24 de mar. de 2021.

BRASIL. Lei n. 13.869/19, de 5 de setembro de 2019. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13869.htm>, acesso em 24 de mar. de 2021.

BRASIL. Lei n. 13.964/19, de 5 de setembro de 2019. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm>, acesso em 24 de mar. de 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Ação Declaratória de Constitucionalidade 43. Relator(a): Min. Marco Aurelio, Tribunal Pleno, Brasília, j. 07.11.2019, DJe 12.11.2020.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal (STF). Ação Direta de Inconstitucionalidade 6299 Medida Cautelar. Relator: Min. Luiz Fux, decisão monocrática, Brasília, j. 15.01.2020, DJe 03.02.2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 347 Medida Cautelar. Relator(a): Min. Marco Aurelio, Tribunal Pleno, Brasília, j. 09/09/2015, DJe 19.02.2016.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal (STF). Habeas Corpus 143.641. Relator: Min. Ricardo Lewandoswki, 2ª Turma, Brasília, j. 20.02.2018, DJe 09.10.2018.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal (STF). Habeas Corpus 188.820 Medida Cautelar – Referendo. Relator: Min. Edson Fachin, 2ª Turma, Brasília, j. 24.02.2021, DJe 24.03.2021.

CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO. Portal da Transparência. Fundo Penitenciário Nacional – FUNPEN. Disponível em: <http://www.portaltransparencia.gov.br/orgaos/30907?ano=2017>, acesso em 24 de mar. de 2021.

COLÔMBIA. Corte Constitucional Colombiana (CCC). Sentencia SU-1150/00. Magistrado Ponente: Dr. Eduardo Cifuentes Muñoz, Sala Plena de la Corte Constitucional Colombiana. Disponível em: https://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/2000/SU1150-00.htm. Bogotá, D. C., j. em 30-08-2000.

COLÔMBIA. Corte Constitucional Colombiana (CCC). Sentencia T-153/98. Magistrado Ponente: Dr. Eduardo Cifuentes Muñoz, Sala Tercera de Revisión, Corte Constitucional Colombiana. Disponível em: http://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/1998/t-153-98.htm . Bogotá, D. C., j. em 28-04-1998.

COLÔMBIA. Corte Constitucional Colombiana (CCC). Sentencia T-025/04. Magistrado Ponente: Dr. Manuel José Cepeda Espinosa, Sala Tercera de Revisón, Corte Constitucional Colombiana. Disponível em: http://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/2004/t-025-04.htm. Bogotá, D. C., j. em 22-01-2004.

COLÔMBIA. Congreso de Colombia. Ley n. 975 de 2005, Diario Oficial No. 45.980 de 25 de julio de 2005. Disponível em: < https://www.cejil.org/sites/default/files/ley_975_de_2005_0.pdf>, acesso em 05 de jan. de 2021.

COLÔMBIA. Ley n. 1448 de 2011, Diario Oficial No. 48.096 de 10 de junio de 2011. Disponível em: < https://www.mineducacion.gov.co/1759/w3-article-381583.html?_noredirect=1#:~:text=Por%20la%20cual%20se%20dictan,y%20se%20dictan%20otras%20disposiciones.>, acesso em 05 de jan. de 2021.

DAHL, Robert. Tomada de decisões em uma democracia: a Suprema Corte como entidade formuladora de políticas nacionais. Revista de Direito Administrativo. v. 252, 2009, pág. 25 a 43.

DÍAZ, Omar Huertas et al. El Estado de Cosas Inconstitucional um mecanismo de exigibilidade y garantia de los derechos humanos em Colombia y su aplicación em Brasil por la Corte Suprema. Revista DIREITO UFMS, Campo Grande, MS, v.3, n.1, p. 33 – 51, jan./jul. 2017.

GARGARELLA, Roberto. Constitution making in the context of plural societies: the “accumulation strategy”. In: Constituent assemblies. ESLTER, Jon. GARGARELLA, Roberto. NARESH, Vatsal. RASCH, Bjorn Erik (Orgs). Cambridge University Press, 2018.

GARGARELLA, Roberto. El nuevo constitucionalismo dialógico, frente al sistema de los frenos y contrapesos. Revista Argentina de Teoría Jurídica, Volumen 14, Diciembre de 2013.

GLEZER, Rubens. MACHADO, Eloísa. Decide, mas não muda: STF e o estado de coisas inconstitucional. JOTA, 2015. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/decide-mas-nao-muda-stf-e-o-estado-de-coisas-inconstitucional-09092015, acesso em 18 de mar. de 2021.

HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Volume I. 2ª ed. revista pela nova gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2012.

HIRSCHL, Ran. Towards juristocracy: the origins and the consequences of the new constitutionalism. Cambridge: Harvard University Press: 2007.

HOGG, Peter W. BUSHELL, Alisson. The Charter Dialogue between Courts and Legislatures (Or Perhaps the Charter of Rights isn’t such a bad thing after all). Osgoode Hall Law Journal, Volume 35, Number 1 (1997), p. 75-124.

HOGG, Peter W. THORNTON, Allison A. Bushell; and WRIGHT, Wade K.. "Charter Dialogue Revisited: Or "Much Ado About Metaphors"." Osgoode Hall Law Journal, Volume 45, Number 1 (2007), p. 1-65.

HOLMES, Richard. SUNSTEIN, Cass R. The cost of rights: why liberty depends on taxes. New York: W. W. Norton & Company, 1999.

JORNAL Brasil Atual Edição da Tarde – 19 de março de 2021. Brasil de Fato, 2021. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2021/03/19/jornal-brasil-atual-edicao-da-tarde-19-de-marco-de-2021>, acesso em 24 de mar. de 2021.

KELSEN, Hans. Quem deve ser o guardião da constituição? In: Jurisdição constitucional. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

KYRITSIS, Dimitrios. A new interpretivist conception of the rule of law. Problema: Anuario de Filosofía y Teoría del Derecho, núm. 10, enero-diciembre, 2016, pp. 91-109.

KYRITSIS, Dimitrios. Justifying constitutional review in the legitimacy register. Journal for Constitutional Theory and Philosophy of Law Revus [Online], in print. April 2020. URL: <http://journals.openedition.org/revus/5706>. Acesso em 29.04.2020.

MADISON, Alexander. The Federalist. Philadelphia: J. B. Lippincott & Co., 1864.

MAGALHÃES, Breno Baía. A incrível doutrina de um caso só: análise do Estado de Coisas Inconstitucional na ADPF 347. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM, Santa Maria, RS, v. 14, n. 3, 2019, p. 1-37.

MAGALHÃES, Breno Baía. O Estado de Coisas Inconstitucional na ADPF 347 e a sedução do Direito: o impacto da medida cautelar e a resposta dos poderes políticos. Revista Direito GV, v. 15, n. 2, 2019, p. 1-37.

MARANIELLO, Patrício Alejandro. El activismo judicial, una herramienta de protección constitucional In: Pensar en derecho. Eudeba Universidad de Buenos Aires. Nro 1, Año 1, 2012, pág. 121 a 165.

MARIANO, Cynara Monteiro. FURTADO, Emmanuel Teófilo. MAIA, Isabelly Cysne Augusto. Contribuições do estado de coisas inconstitucional para a superação das omissões não normativas: dos entraves institucionais ao desenvolvimento humano. Revista Culturas Jurídicas, Vol. 5, Núm. 10, jan./abr., 2018, p. 182-205.

MENDES, Conrado Hübner. Direitos fundamentais, separação de poderes e deliberação. São Paulo: Saraiva, 2011.

MENDES, Conrado Hübner. Eu faço uma aposta com Fux. Folha de São Paulo, 2020. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/conrado-hubner-mendes/2020/09/eu-faco-uma-aposta-com-fux.shtml>, acesso em 24 de mar. de 2021.

MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. O espírito das leis: as formas de governo, a divisão dos poderes. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

RAWLS, John. Political liberalism. Expanded edition. New York: Columbia University Press, 2005.

RIBEIRO, Djamila. O colapso no sistema carcerário no Brasil já é atual e tende a se aprofundar. Folha de São Paulo, 2020. Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/djamila-ribeiro/2020/10/o-colapso-no-sistema-carcerario-no-brasil-ja-e-atual-e-tende-a-se-aprofundar.shtml?origin=folha#>, acesso em 24 de mar. de 2021.

ROACH, Kent. Dialogic judicial review and its critics. Supreme Court Law Review, vol. 23, 2004, p. 49-105.

RODRÍGUEZ-GARAVITO, César. Beyond the courtroom: the impact of judicial activism on socioeconomic rights in Latin America. Texas Law Review, vol. 89(7), 2011, pp. 1669-1698.

RODRÍGUEZ-GARAVITO, César. RODRÍGUEZ-FRANCO, Diana. Juicio a la exclusión. El impacto de los tribunales sobre los derechos sociales en el Sur Global. 1ª ed. Buenos Aires: Siglo Venintiuno Editores, 2015.

RODRÍGUEZ-RAGA, Juan Carlos. Strategic deference in the Colombian Constitutional Court, 1992-2006. In: HELMKE, Gretchen. RÍOS FIGUEROA, Julio (Org.). Courts in Latin America. New York: Cambridge University Press, 2011.

SCHMITT, Carl. Constitutional theory. Durham and London: Duke University Press, 2008.

SMEND, Rudolf. Constitución y derecho constitucional. Centro de Estudios Constitucionales: Madrid, 1986.

STF volta a proibir prisão em 2ª instância; placar foi 6 a 5. Migalhas, 2019. Disponível em: < https://www.migalhas.com.br/quentes/314723/stf-volta-a-proibir-prisao-em-2--instancia--placar-foi-6-a-5>, acesso em 24 de mar. de 2021.

SUNSTEIN, Cass R. A constituição parcial. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.

STRECK, Lenio Luiz. Estado de Coisas Inconstitucional é uma nova forma de ativismo. Conjur, 2015. Disponível em: . Acesso em: 05 de jan. de 2021.

TASSINARI, Clarissa. Jurisdição e ativismo judicial: limites da atuação do judiciário. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2013.

VILE, M. J. C. Constitutionalism and the separation of powers. 2nd ed. Indianapolis: Liberty Fund, 1998.

WALDRON, Jeremy. The core of the case against judicial review. Yale Law Journal, Volume 115, Issue 6, 2006, p. 1346 a 1406.

YEPES, Rodrigo Uprimny. Judicialization of politics in Colombia: cases, merits and risks. Sur - Revista Internacional de Direitos Humanos, São Paulo, n. 6, 2007, p. 53-69.

Downloads

Publicado

05-04-2021

Como Citar

PETIZ, M. M. . O Estado de Coisas Inconstitucional como estratégia de diálogo institucional no julgamento da ADPF 347 MC/DF pelo Supremo Tribunal Federal. Revista de Ciências do Estado, Belo Horizonte, v. 6, n. 1, p. 1–31, 2021. DOI: 10.35699/2525-8036.2021.26989. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revice/article/view/26989. Acesso em: 28 mar. 2024.