O gênero da máscara

desfigurações no Reisado de Caretas da Família Ramos em Canindé

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/2238-2046.2024.52756

Palavras-chave:

Máscara, Reisado, Gênero e Sexualidade, Cultura Popular, Tradição

Resumo

Neste artigo, discuto a relação entre máscara e gênero a partir do Reisado de Caretas da Família Ramos no assentamento de Ipueira da Vaca, distrito de Targinos, zona rural da cidade de Canindé, no interior do Ceará. Para isso, trago uma das passagens da cartografia das dissidências sexuais e de gênero que desenvolvi durante oito anos pelas performances da tradição no estado, destacando o meu encontro em 2023 com o brincante Márcio Ramos, que perfaz na quarta geração do grupo que surgiu em meados de 1920 no sertão cearense. Através dos saberes trans busco centralizar o gênero como forma de questionar toda uma linhagem masculina, heterossexual e cisgênera que parece ser naturalizada nos enredos da tradição, principalmente no sentido de queerizar a noção de teatro como encantamento. Afinal, quando o brincante Márcio Ramos refaz a máscara do avô, Nel Ramos, ele parece refazer a partir do seu próprio gênero, perpetuando tradições por meio
da “desfiguração” das figuras da cena que mostra a encantaria como um tipo de mascaramento performativo.

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Publicado

2024-10-21

Como Citar

JUNIOR, R. J. de O. O gênero da máscara: desfigurações no Reisado de Caretas da Família Ramos em Canindé. PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, Belo Horizonte, v. 14, n. 32, p. 36–62, 2024. DOI: 10.35699/2238-2046.2024.52756. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistapos/article/view/52756. Acesso em: 28 out. 2024.

Edição

Seção

Dossiê