Descrições das cerimônias fúnebres no Brasil colonial (séculos XVII e XVIII)

Autores

  • Clara Braz dos Santos Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", campus de Franca.

Palavras-chave:

Cerimônias fúnebres, escritos sobre a morte, Brasil colonial

Resumo

No Brasil dos séculos XVII e XVIII, foi recorrente a realização de cerimônias fúnebres em homenagem aos defuntos de prestígio, integrantes da monarquia ou da nobreza portuguesa e colonial. Assim como os nascimentos, os casamentos e as aclamações reais, os funerais configuravam-se como cerimônias oficiais e deveriam ser organizados com muita pompa pelas câmaras, conventos, irmandades ou nobres das principais capitanias do Brasil. Entre os estudiosos que se dedicaram a analisar os funerais, alguns os definiram como “festas” que tinham o propósito de exaltar as autoridades. Todavia, quando nos debruçamos sobre os elogios fúnebres produzidos por religiosos e moralistas durante o Seiscentos e o Setecentos, nota-se que os coevos não os compreendiam como uma festa, mas como um momento para manifestar os sentimentos de dor e difundir lições morais sobre a morte mediante o exemplo dos defuntos homenageados. Destarte, o propósito deste artigo é problematizar a definição de festa atribuída aos funerais pela historiografia a partir das descrições veiculadas nos encômios.


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Biografia do Autor

Clara Braz dos Santos, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", campus de Franca.

Graduada e mestre em História pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", campus de Franca.

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Publicado

2017-01-31