Pela noite dos dragões: Caio Fernando Abreu e a escrita do tempo na experiência da aids
Palavras-chave:
Aids, Caio Fernando Abreu, Literatura, TemporalidadeResumo
Resumo: Este trabalho analisa de que modo o entendimento e a experiência do tempo na experiência-limite da aids se inscreveu na produção do escritor Caio Fernando Abreu.O discurso literário afirma-se como uma das maneiras de pensar e escrever sobre a aids, abrindo possibilidades na epidemia discursiva sobre essa experiência. Caio F. foi pioneiro ao tratar do tema, em um universo cujo pano de fundo da tensa relação com a enfermidade torna-se o cenário para indivíduos e suas experiências com o tempo, a sexualidade e a morte emergirem: o medo e a presença da aids permanecem como um espectro, ancorados no passado que se estende, impondo-se como experiência de puro presente, como aponta Susan Sontag, em uma relação com o tempo que não pode ser ignorada. Em dois contos de Os Dragões não conhecem o Paraíso (1988), e a novela Pela noite (1983) busco compreender, em um diálogo entre a historiografia e a literatura, de que modo se apresenta uma experiência do tempo marcada por estigmas tão potentes, com tamanho poder de interferência em como se entendem as temporalidades.
Palavras-chave: Teoria da história; aids; literatura
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