Pela noite dos dragões: Caio Fernando Abreu e a escrita do tempo na experiência da aids

Autores

  • Guilherme da Silva Cardoso Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Palavras-chave:

Aids, Caio Fernando Abreu, Literatura, Temporalidade

Resumo

Resumo: Este trabalho analisa de que modo o entendimento e a experiência do tempo na experiência-limite da aids se inscreveu na produção do escritor Caio Fernando Abreu.O discurso literário afirma-se como uma das maneiras de pensar e escrever sobre a aids, abrindo possibilidades na epidemia discursiva sobre essa experiência. Caio F. foi pioneiro ao tratar do tema, em um universo cujo pano de fundo da tensa relação com a enfermidade torna-se o cenário para indivíduos e suas experiências com o tempo, a sexualidade e a morte emergirem: o medo e a presença da aids permanecem como um espectro, ancorados no passado que se estende, impondo-se como experiência de puro presente, como aponta Susan Sontag, em uma relação com o tempo que não pode ser ignorada. Em dois contos de Os Dragões não conhecem o Paraíso (1988), e a novela Pela noite (1983) busco compreender, em um diálogo entre a historiografia e a literatura, de que modo se apresenta uma experiência do tempo marcada por estigmas tão potentes, com tamanho poder de interferência em como se entendem as temporalidades.

Palavras-chave: Teoria da história; aids; literatura

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Biografia do Autor

Guilherme da Silva Cardoso, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Mestrando do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na linha de pesquisa de Teoria da História e Historiografia

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Publicado

2018-09-28