Chamada de trabalhos para o próximo Dossiê [PRAZO ENCERRADO]

2016-10-28

Remetendo à celebração dos quinhentos anos da Reforma Protestante (1517-2017), a Revista Temporalidades divulga a chamada para o dossiê “(In) Tolerâncias religiosas: práticas Modernas e problemáticas Contemporâneas”, referente à sua 22ª edição (vol.8, n.3, set/dez 2016) a ser publicada em janeiro de 2017. 

Na obra “Trópico dos Pecados” (1997), Ronaldo Vainfas sintetizou o século XVI a partir de uma simples, mas importante expressão: o “tempo de Reforma”. Período que, conforme também afirmou Jean Delumeau, deve ser pensado por meio de uma longa duração, tendo na Igreja Católica o cerne da problemática que envolveu a efervescência religiosa iniciada nos Quinhentos. Mesmo com a relativa eficiência em fornecer aos indivíduos os discursos de salvação por meio dos mais variados mecanismos – como a venda de indulgências, por exemplo –, o Catolicismo entrou em esgotamento, já que essa narrativa da salvação e da intervenção divina foi colocada em xeque. 

Deste enfraquecimento, duas propostas se delinearam de forma mais objetiva: a Reforma e a Contrarreforma. A primeira, por meio do Protestantismo, interessada na ruptura com o modelo religioso então vigente. A doutrina da justificação pela fé, defendida pelo frei Martinho Lutero, e qualificada por Jean Delumeau como o “fecho da abóbada do Protestantismo oficial”, irrompeu para confrontar a ideia de que a salvação poderia ser alcançada por meio de ação e contemplação, defendida pela Igreja Católica. A segunda proposta, desenhada por movimentos internos da própria Igreja, buscou reformar os velhos paradigmas e oferecer a clérigos e fiéis outros caminhos e possibilidades para alcançar a salvação. Reunindo-se em torno do Concílio de Trento, as discussões também se voltaram para reexaminar a organização do Catolicismo como um todo.

Entretanto, não se trata de pensar somente o surgimento dessa nova atmosfera religiosa, mas também as consequências diretas e indiretas que resultaram das Reformas mencionadas. Conforme salientou Reinhart Koselleck (1999), “assim como o ponto de partida do Iluminismo foi o sistema absolutista, o do Absolutismo foram as guerras religiosas”. Portanto, a emergência do “Absolutismo clássico” deve ser compreendida em meio aos conflitos religiosos citados, à medida que o Estado Moderno adquiriu seus primeiros contornos paralelamente ao processo de ressignificação das estruturas religiosas vigentes. 

Sendo assim, este Dossiê propõe um espaço de diálogo capaz de incorporar trabalhos que se debrucem sobre as questões decorrentes das relações entre sociedades e poderes religiosos. É desejo da próxima edição apontar, portanto, para a heterogeneidade dos debates dentro desta temática. 

Assumimos como finalidade maior o interesse em alcançar resultados capazes de demonstrar as diferentes perspectivas em torno do campo das (in)tolerâncias e dos poderes religiosos – nos contextos políticos, culturais ou sociais – na longa duração. Desde análises interessadas nas problemáticas da Era Moderna, até discussões que abordem os ecos deste tema no mundo contemporâneo: as continuidades e rupturas pertencentes a esse processo.

Vale lembrar que, além de artigos destinados ao Dossiê – que deverão ser enviados até o dia 15/12/2016 – a Temporalidades aceita artigos livres, resenhas e transcrições documentais comentadas em fluxo contínuo.

[PROCESSO ENCERRADO EM 15/12/2016]