Chamada de trabalhos para o próximo Dossiê "Usos Práticos do Passado". [PRAZO ENCERRADO]

2017-03-01

DOSSIÊ: USOS PRÁTICOS DO PASSADO

DEADLINE: 15/04/2017

 

Em A Formação das Almas, José Murilo de Carvalho explica a maneira com que Tiradentes foi apropriado pelos ideólogos do movimento republicano. Após a proclamação, os positivistas acreditavam que Tiradentes possuía elementos importantes para ser aceito pela população. Diferente de outros líderes revolucionários, Tiradentes não chegou a executar seu plano, o que o eximia de assassinatos ou qualquer outro tipo de violência que pudesse colocar em dúvida sua reputação. Outro ponto a favor do inconfidente mineiro foi sua morte trágica em praça pública. Era a representação ideal para o herói republicano. Tiradentes ainda conseguia atingir o aspecto religioso, tão importante para a maior parte da população. Depois de recebida a sentença de morte, passou a viver com franciscanos. No momento da sua execução parecia mais um frei do que um rebelde que pretendia lutar contra a Coroa. Na década de 1940 a figura é novamente reivindicada, o então presidente Dutra sanciona uma lei transformando Tiradentes no patrono da Polícia e do Exército. Durante a Ditadura Militar o caráter exemplar de Tiradentes é ampliado e ele é declarado Patrono Cívico da Nação Brasileira.

O atual dossiê da Revista Temporalidades procura debater quais as funções do passado, da memória e da história. Como podem ser mobilizados e utilizados no presente? Essa questão é tratada por Nietzsche em sua Segunda Consideração Intempestiva, no qual ele questiona a utilidade da história e propõe uma epistemologia crítica ao que era produzido em sua época. Nietzsche pondera que a história objetiva gera um acúmulo de conhecimento inútil à vida, enquanto a sua função ideal deveria ser a de produzir vontade e ação prática. Na esteira desse debate, Hayden White desenvolve o conceito de “passado prático” em paralelo ao de “passado histórico”. Para White o passado mobilizado pela história acadêmica cria uma narrativa factual que tende a valorizar mais o que foi do que o que pode ser. As formulações sobre a figura de Tiradentes são um exemplo claro de apropriação e uso prático do passado, um dos vários que são possíveis de detectar em diferentes temporalidades e espaços. Um passado com aplicações políticas, identitárias, sociais e comportamentais.

A Revista Temporalidades convida autores e autoras a submeterem textos que contribuam à proposta do dossiê da sua 23ª edição (vol.9, n.1, jan./abr. 2017), prevista para ser lançada em 31 de maio, enfocando em duas perspectivas possíveis de análise: artigos que tratem sobre eventos, sujeitos e contextos pretéritos mobilizados para justificar eventos de um presente e também artigos teóricos que discutam as possibilidades dos usos do passado, história e memória. Esperamos promover um diálogo fecundo sobre esses temas pertinentes ao debate historiográfico e aguardamos contribuições que somem a este objetivo.

Vale lembrar que, além de artigos destinados ao Dossiê – que deverão ser enviados até o dia 15/04/2017 – a Temporalidades aceita artigos livres, resenhas e transcrições documentais comentadas em fluxo contínuo.

 

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