Hanseníase: internamento compulsório e os percalços familiares à luz da história oral

Autores

  • Mônica Gisele Costa Pinheiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Natal RN , Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Natal, RN - Brasil http://orcid.org/0000-0001-8702-3720
  • Clélia Albino Simpson Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Natal RN , Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Natal, RN - Brasil http://orcid.org/0000-0003-4960-8589
  • Francisco Arnoldo Nunes de Miranda Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Natal RN , Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Natal, RN - Brasil http://orcid.org/0000-0002-8648-811X
  • Felismina Rosa Parreira Mendes Universidade de Évora, Escola Superior de Enfermagem São João de Deus, Évora , Portugal, Universidade de Évora, Escola Superior de Enfermagem São João de Deus. Évora, Distrito de Évora - Portugal; Comprehensive Health Research Centre (CHRC), Évora - Portugal http://orcid.org/0000-0001-9518-2289

DOI:

https://doi.org/10.35699/2316-9389.2020.49979

Palavras-chave:

Acontecimentos que Mudam a Vida, Relações Familiares, Hanseníase, Enfermagem

Resumo

INTRODUÇÃO: a hanseníase é uma doença secular mantida por muitos anos como incurável, levando à segregação do doente. Os mecanismos excludentes contra o leproso tinham a premissa de proteger a população sadia, ao mesmo tempo em que se constituíam como empecilhos à manutenção do vínculo familiar. OBJETIVO: analisar o efeito do tratamento compulsório da hanseníase em hospitais-colônias nas relações familiares, na perspectiva daquele que possui parentesco com um ex-doente. MÉTODO: estudo qualitativo, utilizando-se da história oral temática. A colônia foi composta pelos 52 familiares de ex-doentes de hanseníase e a rede por 10 colaboradores, de ambos os sexos, com idade de 44 a 76 anos. Utilizou-se a entrevista, com questões abrangentes, submetida à análise temática de conteúdo. A pesquisa foi aprovada com Parecer de nº 650.654/2014. RESULTADOS: mediante a análise, emergiram três categorias: desestruturação da organização familiar, distanciamento familiar e alteração no suporte familiar, os quais abordam as consequências nas relações familiares, estabelecidas mediante a experiência de se ter um parente acometido pela lepra e vitimado pelo internamento compulsório em hospitais-colônias. O distanciamento modificou as relações e o vínculo familiar entre os ex-doentes de lepra tratados em ambiente asilar e seus familiares. CONCLUSÃO: as histórias narradas relatam danos vivenciados no passado como consequência da ruptura familiar sofrida pelos colaboradores do estudo frente à política adotada como profilaxia e controle da lepra. Diante dessa parte do histórico da doença relatada no presente estudo, e de suas características epidemiológicas, torna-se relevante considerar a subjetividade dos indivíduos com hanseníase, proporcionando cuidado integral.

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Publicado

30-03-2020

Como Citar

1.
Pinheiro MGC, Simpson CA, Miranda FAN de, Mendes FRP. Hanseníase: internamento compulsório e os percalços familiares à luz da história oral. REME Rev Min Enferm. [Internet]. 30º de março de 2020 [citado 30º de junho de 2024];24(1). Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/reme/article/view/49979

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