Reflexões sobre o discurso midiático brasileiro e a legitimação da punição

Autores

  • Samuel Rivetti Rocha Balloute Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.35699/2525-8036.2021.33004

Palavras-chave:

Mídia, Direito Penal, Criminalidade, Violência, Televisão

Resumo

O presente artigo visa refletir sobre a abordagem que a mídia brasileira destina à criminalidade (principalmente urbana), e como ela contribui para a legitimação do atual estado punitivo. A questão criminal é retratada pelos meios de comunicação de massa de tal maneira que produz deformações na realidade e, por consequência, influencia na formação de opiniões pelo público leigo, que confia na informação midiática e muitas vezes absorve sua mensagem. Sua abordagem do problema basicamente tem como padrão o reforço de estereótipos e do ideal punitivo, com ausência de debates sobre pontos de vistas diferentes. Desta forma, a partir da constatação do tempo que os cinco maiores canais de televisão destinam para programas que tratam central ou tangencialmente da questão criminal, reflete-se sobre o impacto que o ponto de visa midiático causa na sociedade, buscando-se demonstrar a correlação existente entre o recrudescimento da legislação penal, o aumento do encarceramento e o modo como a mídia aborda as notícias criminais. Foi utilizado o procedimento de amostragem (para selecionar e analisar a grade de programação dos canais televisivos), e o de revisão bibliográfica (para situar, investigar e interpretar o problema definido no âmbito Criminologia).

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Biografia do Autor

Samuel Rivetti Rocha Balloute, Universidade Federal de Minas Gerais

Graduando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Editor-Adjunto da Revista do CAAP. Extensionista no Programa Apenas Humanos: ações interdisciplinares no âmbito da APAC de Santa Luzia, da PUC Minas.

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Publicado

29-06-2021

Como Citar

BALLOUTE, S. R. R. Reflexões sobre o discurso midiático brasileiro e a legitimação da punição. Revista de Ciências do Estado, Belo Horizonte, v. 6, n. 1, p. 1–37, 2021. DOI: 10.35699/2525-8036.2021.33004. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revice/article/view/e33004. Acesso em: 28 mar. 2024.