Oralitura e escrevivência na performance de mulheres negras no Poetry Slam brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.35699/2238-2046.2025.52322Palavras-chave:
escrevivência, mulheres negras, oralitura, performance, poetry slamResumo
O presente trabalho visa relacionar os conceitos de escrevivência, desenvolvido por Conceição Evaristo, e oralitura, desenvolvido por Leda Maria Martins, para pensar a prática performática realizada por mulheres negras no poetry slam brasileiro. Com base no poema “Nóis é clitóris” (2020), da slammer paulistana Midria, defendemos que no momento da performance do slam são gestadas hoje “oralituras do corpo feminino” de mulheres negras, passando da escrita poética e das narrativas de experiências pessoais atravessadas pela colonialidade de gênero à representação performativa do discurso feminista negro. Através do poema “Nóis é clitóris”, Midria estabelece conexões entre o prazer sexual e a criação, mostrando caminhos de transformação pessoal e social do corpo negro. A autora registra essas narrativas por meio da escrita poética, que são ressignificadas pela oralidade para, assim, serem divulgadas perante a comunidade durante a apresentação. Para compreender a situação de subjugação e opressão que as mulheres vivenciam na América Latina desde a colonização e, também, para tornar visíveis os mecanismos de subversão ao sistema patriarcal atual que nascem de grupos de mulheres feministas, recorreremos aos aportes teóricos da filósofa feminista decolonial María Lugones, em diálogo com pensadoras como Lélia Gonzalez, Patrícia Hill Collins, Catherine Malabou, entre outras.
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