Gênero e conflito conjugal: os discursos sobre o masculino e o feminino nos libelos de divórcio do Tribunal Eclesiástico do Rio de Janeiro (1808-1831)

Autores/as

Palabras clave:

Gênero; casamento; divórcio;

Resumen

Este artigo analisa as representações de gênero nos processos de divórcio julgados pelo Juízo Eclesiástico do Rio de Janeiro entre 1808 e 1831, período de intensas transformações políticas e sociais. A partir dos libelos conservados no Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro (ACMRJ), investiga-se como esposas mobilizavam discursos de submissão feminina para obter respaldo institucional, ao mesmo tempo em que deslegitimavam a autoridade patriarcal. Amparado nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (Vide, 1853) e nas Ordenações Filipinas (Silva, 1999), o estudo mostra que o casamento era concebido como sacramento regulador da moral e da reprodução e não como união afetiva (Seixas, 2022). As principais justificativas femininas para a separação incluem adultério, violência, vícios e abandono do lar. Conclui-se que os libelos de divórcio são fontes valiosas para entender os papéis de gênero promovidos pela Igreja e as formas de resistência das mulheres em um contexto patriarcal.

Descargas

Los datos de descarga aún no están disponibles.

Referencias

ACMRJ, Processo de Divórcio LD158 de 1808: Úrsula Maria versus Antônio José da Costa.

ACMRJ, Processo de Divórcio LD270 de 1815: Celestina Maria versus João Luiz.

ACMRJ, Processo de Divócio LD483. Laura D’ Assunção Sampayo versus Porfírio Joaquim Soares Viegas

AMARAL, Isabella Guimarães Rabelo do. Resistência feminina no Brasil Oitocentista: as ações de divórcio e nulidade de matrimônio no Bispado de Mariana. Dissertação (Mestrado em Direito) – Curso de Pós-Graduação em Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2012.

DEL PRIORE, Mary; BASSANEZI, Carla Beozzo (Ed.). História das mulheres no Brasil. Unesp, 2007.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 23. ed. São Paulo: Graal, 2004.

GOLDSCHMIDT, Eliana M. R. Famílias Paulistanas e os casamentos consanguíneos de ‘donas’, no período colonial. Anais da 17º Reunião da S.B.P.H. São Paulo, 1997.

GRAHAM, Sandra Lauderdale. Caetana diz não. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

MARTINS, Roberto Borges. A transferência da Corte Portuguesa para o Brasil: impactos em Minas Gerais. XIII Seminário sobre A Economia Mineira. Diamantina, p. 1-18, 2008.

MARTINS, William de Souza. Representações do feminino e do masculino nas petições enviadas às secretarias de Estado dos Negócios do Reino e do Império (1808-c. 1830). Revista de História, Universidade de São Paulo, São Paulo, n. 176, 2017.

SCHULTZ, Kirsten. Versalhes tropical. Império, monarquia e a Corte imperial no Rio de Janeiro, 1808-1821. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Porto Alegre: Educação e realidade, n. 16, v. 2, 1990.

SCOTT, Ana Silvia Volpi. “Malcasadas: mulheres divorciadas na Porto Alegre colonial”. In: Araújo, Maria Marta Logo; Fleck, Eliane Cristina Deckmann. Mulheres do Reino e do Império: aproximações e singularidades (séculos XVI ao XVIII). São Leopoldo: Editora Oikos, p. 288-316, 2022.

SEIXAS, Júlio Chaves. Representações da honra e honestidade feminina e da violência masculina nos libelos de divórcio no inicio do século XIX no Rio de Janeiro. Monografia (Graduação em História) – Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2022.

SILVA, Maria Beatriz Nizza da. O casamento e suas normas, eclesiásticas, civis e sociais. In: _____. Cultura no Brasil colônia. Petrópolis: Editora Vozes, 1981, p. 11-43.

SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Sistema de casamento no Brasil colonial. São Paulo: T. A. Queiroz: Edusp, 1984.

SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Donas e plebeias na sociedade colonial. Lisboa: Editorial Estampa, 2002.

SILVIA Hunold Lara (org). Ordenações Filipinas. Livro V. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

VIDE, Dom Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. (Impressas em Lisboa no ano de 1719 e em Coimbra em 1720. São Paulo): Tip. 2 de Dezembro, 1853.

WINDLER, Erica. Honor among Orphans: Girlhood, Virtue and Nation at Rio de Janeiro’s Recolhimento. Journal of Social History. Oxford, vol. 44, n. 4, Summer 2011.

ZANATTA, Aline Antunes. Justiça e representações femininas: o divórcio entre a elite paulista (1765-1822). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Campinas, SP, 2005.

Publicado

2025-09-16

Cómo citar

DAMICO ADORNO SOARES, Andrey. Gênero e conflito conjugal: os discursos sobre o masculino e o feminino nos libelos de divórcio do Tribunal Eclesiástico do Rio de Janeiro (1808-1831). Temporalidades, Belo Horizonte, v. 17, n. 1, p. 1–24, 2025. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/temporalidades/article/view/60582. Acesso em: 24 dec. 2025.