Novo do velho: a poesia experimental dos poetas ensaístas Haroldo e Augusto de Campos

Autores

  • Carolina Tomasi Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.17851/1983-3652.8.1.146-161

Palavras-chave:

Literatura brasileira. Poesia experimentalista. Barroco. Neobarroco. Semiótica tensiva.

Resumo

RESUMO: Discutir a poesia aguda de expressão visual e sonora, que partilha o sentido de renovar o antigo, mas não se desgarra do velho, ou de criar o novo, voltando à origem, é um dos motivos principais deste artigo. Mais do que barroquismo no século XX ou ruptura em relação ao passado, investigamos que os poetas Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Affonso Ávila compartilham procedimentos de agudeza que se diferenciam por participarem de tempos discursivos diferentes, o discurso de barroco era um e o discurso do chamado “neobarroco” é outro. A partir de então, a vanguarda já não se faz como categoria operacional, mas apenas como um ponto na linha evolutiva. Temos, assim, um Haroldo de Campos que interroga a história literária de Antonio Candido, propondo-a não como formação, mas como transformação; menos como processo que se forma e mais como processo gerundivo, em que sobressaiam os momentos de ruptura, entendendo a tradição como um procedimento dialético, que coloca face a face diacronia e sincronia. Para exemplificação das reflexões, tomamos como base os poemas “Oportet”, de Haroldo de Campos, e “Novo novelo”, de Augusto de Campos, para discutir uma questão recorrente na literatura: tradição e ruptura, considerando questionável o rótulo “neobarroco” na literatura brasileira.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura brasileira. Poesia experimentalista. Barroco. Neobarroco. Semiótica tensiva.

 

ABSTRACT: To discuss sharp poetry of sound and visual expression, which shares the sense of renewing the old, but not strays from the old, or create the new, returning to the origin, is one of the main reasons of this article. More than baroque style in the twentieth century or break with the past, we investigated that the poets Haroldo de Campos, Augusto de Campos and Affonso Ávila share sharpness procedures that differ by participating in different discursive tenses, the baroque speech is one thing and the so called “new baroque” speech is another thing. Since then, the vanguard is no longer an operational category, but a point in the evolutionary line. We have thus a Haroldo de Campos that questions the literary history of Antonio Candido, proposing it not as a training but a transformation; less as a process that forms and more like a gerundive process, in which stand out the moments of rupture, understanding the tradition as a dialectical procedure, which puts diachrony and synchrony face to face. For exemplification of reflections we based on the poems “Oportet" by Haroldo de Campos and “Novo Novelo" by Augusto de Campos to discuss a recurrent theme in the literature: tradition and rupture, considering questionable the label "neo-baroque" in Brazilian literature.

KEYWORDS: Brazilian Literature. Experimentalist poetry. Baroque. Neo-Baroque. Tensive semiotic.

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Biografia do Autor

Carolina Tomasi, Universidade de São Paulo

Doutora (2014) e Mestre (2011) em Letras pela Universidade de São Paulo. É graduada em Letras pela Universidade de São Paulo (2002). Em 2010, frequentou durante três meses os cursos de Semiótica e de "Résumé" (Hjelmslev);, ministrado pelo Prof. Dr. Romeo Galassi na Università di Padova. Atuou um ano e meio como professora de Língua Portuguesa e Literatura no Ensino Médio, na Escola EEPG Guimarães Júnior em Ribeirão Preto (SP), por meio de atribuição de aulas da Diretoria Regional de Ensino de Ribeirão Preto. Além disso, trabalhou durante 12 anos com Produção Editorial na função de editora de texto. Sua pesquisa atual tem como foco a negação da euforia barroquista e seus reflexos na poesia brasileira do final do século XX. Além disso, tem como objeto de pesquisa a teatralização da crise de verso, tradição e ruptura e inquietações da poesia contemporânea na literatura brasileira. Seus temas de interesse são historiografia e crítica literárias, literatura brasileira, poesia seiscentista e poesia brasileira do final do século XX. Desde 2007, é membro do Grupo de Estudos Semióticos da USP (GES-USP); pertence ainda à comissão editorial da Revista de Estudos Semióticos da USP. Atualmente, é editora convidada da Revista Estudos Semióticos da USP e parecerista das revistas Texto Livre e CASA (Cadernos de Semiótica Aplicada).

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Publicado

31-07-2015

Como Citar

TOMASI, C. Novo do velho: a poesia experimental dos poetas ensaístas Haroldo e Augusto de Campos. Texto Livre, Belo Horizonte-MG, v. 8, n. 1, p. 146–161, 2015. DOI: 10.17851/1983-3652.8.1.146-161. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/textolivre/article/view/16694. Acesso em: 25 abr. 2024.