Literatura e religiosidades de matriz africana
por uma poética afro-religiosa
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.28.3.247-270Palavras-chave:
Literatura afro-brasileira, Literatura afro-religiosa, Candomblé, JarêResumo
Este artigo, declaradamente aberto e em franco diálogo com referenciais teórico-críticos africanos, afro-brasileiros e euro-ocidentais, propõe uma reflexão inicial sobre uma produção literária afro-religiosa assentada no pensamento animista. Objetiva-se demonstrar que romances, como Torto Arado (2020), de Itamar Vieira Junior, e O outro pé da Sereia (2006), de Mia Couto, oferecem, ao leitor, a possibilidade de adentrar o universo cosmogônico das comunidades tradicio- nais de matriz africana, que descortinam diversos personagens divinos e humanos por meio de representações que não só desconstroem estereótipos como, por outra via, situam o leitor na realidade concreta dos povos de terreiro. Como suporte para as análises, valer-nos-emos dos textos dos seguintes críticos: Alves; Rebelo (2009), Brookshaw (1983), Cuti (2010), Dalcastagnè (2012), Gomes (2013), Paradiso (2020a, 2020b), Prandi (1996, 2015, 2010), Rabassa (1965), Spivak (2010), Verger (2002), dentre outros.
Downloads
Referências
ALENCAR, J. O Tronco do Ipê. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1991.
ALVES, P. C.; RABELO, M. C. O jarê – religião e terapia no candomblé de caboclo. In: V Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Faculdade de Comunicação. UFBA, Salvador, Bahia: Brasil, 2009.
ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2017.
ALMEIDA, S. L. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro, Editora Jandaíra, 2020.
BASTIDE, R. O Candomblé da Bahia. Trad. Maria Isaura Pereira de Queiróz. 2. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1978.
BROOKSHAW. D. Raça e cor na literatura brasileira. Trad. Marta Kirst. Porto Alegre. Mercado Aberto, 1983.
BOSI, A. História Concisa da Literatura Brasileira. 36. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
COUTO, M. O outro pé da sereia. Córdova: Editora Caminho S.A., 2006.
CUTI, L. S. Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010.
DALCASTAGNÈ, R. Literatura Brasileira Contemporânea: um território contestado. São Paulo: Horizonte, 2012.
DEALTRY, G. F. No fio da navalha: malandragem na literatura e no samba. Rio de Janeiro: Casa da Palavra. 2009.
DUARTE, E. de A. Literatura afro-brasileira: 100 autores do século XVIII ao XXI. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.
GÓIS, A. J. As religiões de matrizes africanas: o Candomblé, seu espaço e sistema religioso. Revista Horizonte. Belo Horizonte, v. 11, n. 29, p. 321-352, jan./mar. 2013.
GOMES, H. T. O negro e o Romantismo brasileiro. 1. ed. São Paulo: Atual, 1988.
KILOMBA, G. Plantation Memories: Episodes of Everyday Racism. Muster: Unrast Verlag, 2012. Disponível em: <https://goo.gl/w3ZbQh>. Acesso em: 21 jan. 2021.
MÉRIAN, J. O negro na literatura brasileira versus uma literatura afro-brasileira: mito e literatura. Revista Navegações. v.1, n.1, p. 50-60, 2008.
NASCIMENTO, Abdias. Axés do Sangue e da Esperança. (orikis). Rio de Janeiro: Achiamé/Rio Arte, 1983. Disponível em: <https://ipeafro.org.br/acervo-digital/leituras/obras-de-abdias/axes-do-sangue-e-da-esperanca/>. Acesso em: 21 jan. 2021.
OPUKU, K, A. A religião na África durante a época colonial. In: BOAHEN, Albert Adu (ed.). História Geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935. 2. ed. Brasília: UNESCO, 2010, cap. 20.
PARADISO, S. R. As religiões tradicionais africanas e as literaturas africanas. Revista África e Africanidades, n. 36, nov. 2020a.
PARADISO, S. R. O realismo animista e as literaturas africanas: gênese e percursos. Revista Interfaces. v. 11, n. 2, 2020b.
PAULA JUNIOR, A. F. Filosofia da oralidade: contribuições da tradição oral para filosofia africana e afrodiaspórica. Revista Ítaca, n. 36, p. 321-358, 2010.
PRANDI, R. Herdeiras do axé: sociologia das religiões afrobrasileiras. São Paulo: Hucitec, 1996. p.139-158.
PRANDI, R. Segredos guardados: orixás na alma brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
PRANDI, R. Coração de Pombagira. In: Esboços: Revista do Programa de Pós-Graduação em História da Arte v. 17, n. 23, p. 141-149, 2010.
PROENÇA FILHO, D. A trajetória do negro na literatura brasileira. Estudos Avançados, v.18, 2004.
RABASSA, G. O negro na ficção brasileira. Trad: Ana Maria Martins. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1965.
SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
VERGER, P. F. Orixás deuses Iorubás na África e no novo mundo/ tradução Maria Aparecida da Nóbrega. 6. ed. Salvador: Corrupio, 2002.
VIEIRA JUNIOR, I. Torto Arado. São Paulo: Todavia, 2020.
VIEIRA JUNIOR, I. Torto arado reflete passado escravagista mal resolvido. Entrevista ao site DW Brasil. 16 mar. 2021. Disponível em: <https://contee.org.br/torto-arado-reflete-passadoescravagista-mal-resolvido/>. Acesso em: 21 jan. 2022.



